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terça-feira, agosto 21, 2007


3 meses depois...

Definitivamente não tenho vocação para escrever blogues. Blogues, os bons, os verdadeiros, os que se respeitam e respeitam os seus leitores são os blogues que se atualizam, que estão o tempo todo comentando a vida no seu burburinho diário. Esse blogue é definitivamente um blogue chato, que tem mais outonos que primaveras, mais abandono que encontro. Ruínas de palavras deixadas no espaço cibernético a espera de um arqueólogo desocupado que por aqui apareça.

Enquanto o blogue ficava parado, a vida seguia. Recife, Porto, Lisboa (um mês em Portugal) e agora, a volta para os Estados Unidos. Gostaria de escrever algo que valesse a pena, algum testemunho etnográfico sobre os lugares que fui em Portugal, sobre a viagem, o reencontro com a Metrópole. No entanto, a minha vida anda consumida por detalhes menores, burocráticos e, no entanto, essenciais: estou procurando casa aqui nos Estados Unidos. E isso tem sido um suplício de marca maior.

Os americanos são fanáticos por reality shows. Na TV americana há todo tipo de reality show que você possa imaginar: dançarinos, conquistadores profissionais, cozinheiros (sim, cozinheiros!), todos eles estão diariamente na TV, diglandiando-se em frente das câmaras numa dura competição para ganhar o programa. Fiz a pequena digressão apenas para dizer como me sinto nessa procura por casa. É como se estivesse num reality show. Leio diariamente os anúncios no jornal e vou atrás das open houses. Lá há geralmente multidões de estudantes querendo o mesmo lugar pra morar. O clima é tenso, a competição é cruel. O senhorio analisa os estudantes, conversa com eles. Todos estão nervosos e com aquele sorrisinho calculadamente artificial que só os gringos são capazes de fazer. Volta-se pra casa e como não há contato com o senhorio, descobre-se que você está eliminado do programa. Quando isso acontece uma vez, tudo bem, "faz parte do jogo", você pensa, mas quando isso acontece todas as vezes que você vai atrás de casa, a situação começa a ficar irritante.

E no mais, há todo tipo de anúncios nos jornais. Gente que quer pessoas que tenham animais de estimação. Gente que detesta animais de estimação. Vegetarianos que não querem absolutamente ninguém que coma carne na casa deles (a quem eu chamo de NaziVeggies). Americanos politicamente correto que só querem comer comida orgânica e exigem que todos na casa também comam a comida orgânica, vinda de fazendas cooperativas, com selo de Fair Trade (viver em Berkeley às vezes cansa a beleza de qualquer um). Enfim, você quer apenas um lugar pra morar, dormir, cozinhar o seu jantar no final da noite, e têm que aguentar esse discurso pseudo-comunitário de pessoas que retoricamente valorizam a diversidade, mas não estão realmente dispostas a lidar com a alteridade.


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