segunda-feira, novembro 05, 2007
A LINGUAGEM POLÍTICA DA INVASÃO
Eu achei essa charge no "blogue da ocupação da UFPE" (http://ocupaufpe.blogspot.com/) Há alguns dias a reitoria da Universidade Federal de Pernambuco tem sido ocupada pelo movimento estudantil. Imitando os uspianos, que invadiram a reitoria da USP por mais de um mês no primeiro semestre desse ano, os ativisitas querem sair depois que o reitor aceitar discutir com "comunidade" a adesão da universidade ao REUNI.
O REUNI é um progarama criado pelo MEC que servirá como uma linha de crédito para a expensão das universidades federais (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6096.htm). Para aderir ao REUNI, as universidades se comprometem a atingir certas metas: entre elas, "elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de gradu, "elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento" e aumentar a relação professor-aluno de 13 para 18. Essas são medidas polêmicas, pois implica aumentar o número de alunos sem necessariamente aumentar o número de professores em níveis proporcionais. Já aprovação de 90% dos alunos deve causar calafrios aos professores da Aréa II, reconhecida pelo alto índice de reprovação. E as duas metas podem comprometer a qualidade de ensino da universidade.
Não obstante esses problemas, que deverão ser discutidos ao longo do ano, o plano parece ser muito bom. A UFPE pretende ampliar moradias estudantis, contratar mais professores, aumentar bolsas de auxílio a estudantes carentes, criar novos cursos e aumentar a vaga de já existentes. A decisão da UFPE de aderir ao REUNI foi tomada pelo Conselho Universitário, mas os estudantes, aparentemente, não se dão por satisfeitos com a legitimidade dessa instância, pois acham que discussão não foi discutida com a "comunidade".
A questão aqui é menos os méritos e problemas do REUNI, mas a linguagem política endorsada pelo movimento estudantil. Eu me lembro que quando os uspianos invadiram a reitoria, e Serra, com medo de ser considerado "autoritário", foi leniente com o movimento, concluí que havia sido criado ali uma linguagem vista como legítima: a invasão de reitorias. Claro que a linguagem passou a ser empregada em todos os lugares do Brasil, e Pernambuco, não poderia deixar de entrar na onda. E o script é o mesmo: as autoridades se fazem de desentendidas. O reitor Amaro "dialoga", não quer usar força policial e os estudantes dizem que só sai quando o assunto for discutido com a "comunidade", quando se sabe que o Conselho Universitário é uma instância legítima para discutir as questões pertinentes à universidade.
Outro dia estava lendo um livro de Ruy Fausto, que repensa os dogmas da esquerda, e creio que um dos dogmas mais enraizados é o dogma soreliano (http://en.wikipedia.org/wiki/Georges_Sorel) de que as mudanças só acontecem quando feitas na base de força e da violência. Gestos extraordinários e até violentos são compreensíveis em estado de exceção, não em pleno estado democrático de direito. Por que os estudantes não se reunem com o ministro? Mobilizam para pressionar a bancada pernambucana? Entram no Congresso e tentam conversar com os parlamentares? E se não conseguirem, faz parte da regra do jogo.
Isso é uma coisa que todo torcedor do Náutico sabe bem: perder faz parte do jogo (e como faz!), mas nem por isso a gente vai deixar de jogar dentro das regras para vencer.