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quarta-feira, junho 15, 2005

TSUNAMI

Ontem foi dia de alerta de Tsunami aqui na Califórnia (http://www.sfgate.com/cgi-bin/article.cgi?f=/c/a/2005/06/15/QUAKE.TMP). Eu estava trabalhando na International House quando o telefone tocou. Era o "escritório de resposta às emergências" aqui em Berkeley (http://oep.berkeley.edu/). Parece brincadeira, mas a universidade tem um escritório só para lidar com cenários sombrios, como ataques terroristas e terremotos. Tudo para que nenhuma desgraça pegue de surpresa a cidade. Para cada uma dessas catastróficas possibilidades, o "escritório de resposta às emergências" apresenta um plano B. Por exemplo, todo mundo está cansado de saber que caso aconteça um terremoto, as pessoas devem se dirigir a um dos ginásios da universidade, onde lá encontrarão primeiros socorros e abrigo. Toda essa paranóia tem uma justificativa muito prática. Berkeley está sobre uma das maiores falhas geológicas da Califórnia, que é a falha de Hayward (http://seismo.berkeley.edu/geotour/).
Além da paranóia por terremotos, durante toda primeira quarta-feira do mês, toca-se a sirene da universidade para que os alunos se familiarizem com o som dela, para que, caso a escutem num período que não seja de teste, saibam que estão sob ameaça.

Ontem foi o dia do alerta do Tsunami. Voltando ao assunto: eles ligaram para mim, à noite, numa hora que a International House fica sob comando do staff estudantil que lá trabalha - ou seja, na hora em que estava sob meu comando. Eles informam que, pela I-House ser um lugar alto, seria um ponto de apoio para o escritório deles em caso de um Tsunami. Na hora eu gelei. Fui para Internet e notei que o terremoto havia sido 60 milhas da costa do pacífico e que, para atingir Berkeley, ainda teria que passar por San Francisco. Uns 40 minutos depois, o alerta foi cancelado, para o meu alívio.

PS- Apesar de toda essa paranóia americana, que se preocupa com terremotos, tsunamis e ataques terroristas, posso dizer que se vive com muito mais tranquilidade aqui do que, infelizmente, no Recife, onde as pessoas adotam certo procedimentos de uma sociedade em guerra, às vezes sem se dar conta disso.

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O único tsunami verdadeiro foi o de Brasília, com o testemunho de Roberto Jefferson na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Quando eu vejo as cenas dos nossos homens públicos reunidos, todos muito patriotas, em busca de soluções para os impasses de nossa esfera pública, lembro do grande poema de Drummond, em Brejo das Almas, chamado Hino Nacional:

Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil caber tanto oceano e tanta solidão
no pobre coração já cheio de compromissos...
se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão de seus sofrimentos

Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos
O Brasil não nos quer! O Brasil está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo! Este não é o Brasil
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?


domingo, junho 05, 2005

CURTAS DE DOMINGO. . .

O verão californiano segue maravilhoso: Céu azul - sem nenhuma nuvem -, temperatura ideal, loirinhas cada vez com menos roupas andando por Berkeley. E eu que fiquei aqui porque queria estudar e pesquisar! Toda essa atmosfera de verão parece conspirar contra os meus projetos, mas graças à minha disciplina "monástica" tenho conseguido fazer alguns avanços na minha pesquisa.
À noite eu tenho assistido Seinfeld, já que comprei um DVD da quarta temporada do seriado (desnecessário dizer que eu já tenho as três primeiras temporadas). Esse é um seriado que, de fato, merece ser assistido: humor inteligente e ácido, incapaz de ser condescendente com o politicamente correto, e bem distante daquela meladeira sentimental que era Friends.

* * *

Enquanto isso, no Brasil, o Partido dos Trabalhadores afunda cada vez mais na lama. O ministro da Fazenda, o dono da chave do cofre, está pessoalmente empenhado na operação abafa-CPI. Cogita-se que 400 milhões de reais serão liberados em emendas para os parlamentares que se mostrarem sensíveis aos apelos do governo. O PT, que no governo tem imitado o PSDB em todos métodos duvidosos de governança, nesse quesito se superou. Nunca soube que Pedro Malan, ministro da Fazendo de FH, estivesse envolvido em operação abafa-CPI. Malan, pelo menos, fazia pose - não se mudava para o Palácio do Planalto para de lá despachar, barganhando com deputado.

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O mais engraçado é analisar as tese de alguns petistas que abusam da imemorial capacidade humana de se auto-enganar. Uns acham que deve-se esperar mais um pouquinho, porque Lula vai fazer um governo de esquerda no segundo mandato. Muito lógico, né ? Afinal, Lula vai fazer acordos com toda essa corja fisiológica dos Jeffersons e Severinos para se reeleger, e é razoável supor que esses crápulas não vão pedir a conta no final da festa. É um grande engano pensar que, após os compromissos e as dívidas que Lula vai contrair para se reeleger, seu governo vai começar a funcionar e suas bandeiras esquerdistas irão reaparecer.

Outra tese é que Lula deve ser reeleito para que a direita não volte ao poder. Ótimo. Mas se a direita não está no poder, quem está? Não há ninguém no Brasil que se beneficie mais da política econômica que os banqueiros. Lula está governando com gente como Roberto Jefferson, Eunício de Oliveira, Severino Cavalcanti, José Sarney, Inocêncio de Oliveira (agora do PMDB), Armando Monteiro. Tem gente nessa lista acusada de manter TRABALHO ESCRAVO em suas fazendas. Essa gente que está no poder, para alimentar seus partidos com "mesadas", é o que existe de mais reacionário, de mais atrasado na política brasileira. Com Lula, a direita JÁ está no poder.
E estará no poder indepedente de quem seja o próximo presidente.

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O que esse país de fato precisa é uma reforma política - onde os Partidos sejam definidos pelos seus programas, onde o voto do deputado é voto do partido e onde o eleitor sabe claramente em que partido está votando. Em qualquer país onde as instituições políticas funcionam, o eleitor vota por uma proposta de sociedade, por uma série de idéias - e não por uma pessoa. As alianças políticas devem ser programáticas e feitas à luz do dia.

Outra coisa urgente é uma reforma administrativa que faça uma blindagem na máquina pública - os cargos de confiança devem ser poucos e restritos ao alto comando, para evitar que os Partidos da Boquinha façam da máquina pública, uma máquina partidária.

Essas reformas são difíceis de serem conseguidas porque dependem dos políticos - que são aqueles que se alimentam do status quo. Em útlima instância quem deveria se mobilizar, quem deveria ir pra rua para pedir essas reformas é a própria sociedade civil brasileira, que está mais preocupada em assistir o último capítulo do Big Brother Brasil do que com essas coisas pequenas da política. Roberto Jefferson, Severino Cavalcanti e Inocêncio de Oliveria agradecem imensamente.

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Aqui vai uma enquete: em quem você votou para deputado nas últimas eleições? Em 1998 votei em Pedro Eugênio - que era do PPS e depois mudou-se para o PT, e até onde eu sei, não foi reeleito. Em 2002, eu não votei, mas votaria em Roberto Freire (já estou vendo a fúria que causarei em alguns dos meus três leitores por causa dessa revelação).

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Bernardo me perguntou sobre o que eu achava do Não dado pela Holanda e França. Há muita especulação sobre o que pode acontecer de agora em diante. Há um artigo de Will Hutton no Guardian muito bom sobre os possíveis cenários que a Europa terá a sua frente agora (http://politics.guardian.co.uk/eu/comment/0,9236,1499602,00.html).

Não acho que eles vão deixar a peteca cair totalmente. Eles não disseram NÃO à integração européia. Eles disseram NÃO a um tipo de integração. Muitos analistas políticos já achavam que todo esse processo estava acontecendo rápido demais. Era preciso dar um freio, daqueles que os motoristas de ônibus no Recife gostam de dar - para derrubar todo mundo, pra depois saber quem sobreviveu...;o) Vejamos.

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