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sábado, julho 30, 2005

ATRÁS DO PREJUÍZO

Se algumas semanas atrás reclamava do ar nefelibata inerente à atividade intelectual, posso dizer que, nós últimos dias, caí das nuvens dos livros para cheguar aos tormentos daquilo que alguns chamam de "vida prática". De uma semana para outra, descobri que havia perdido meu emprego na International House em decorrência de uma nova interpretação de uma lei concernente à imigração. Como trabalho como uma espécie de monitor na universidade, e como resident assistant aqui na I-House, tive que escolher entre um desses empregos para continuar na terra do tio Sam legalmente. De uma hora para outra, vi-me numa confusão burocrática de primeira ordem. A bem da verdade, ainda estou no meio dessa confusão - pois estou tentando lutar por algum tipo de compensação pelo fato da International House ter quebrado o contrato comigo. As esperanças são poucas, já que imigrante não têm direito a nada aqui. Ser estrangeiro é uma condição que definitivamente tem suas agruras.

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Uma coisa que tem me deixado impressionado aqui nos Estados Unidos é volume de debate gerado pela indicação do John Roberts para a Suprema Corte(http://www.nytimes.com/pages/politics/politicsspecial1/index.html). A vida do juiz é toda analisada, assim como suas decisões anteriores, suas tendências políticas. Tudo isso é discutido e cuidadosamente avaliado. O que não deixa de ser um sintoma de uma solidez institucional que o Judiciário possui nos Estados Unidos e que, infelizmente, ainda está muito desejar no Brasil. Se quase ninguém sabe o nome dos ministros do STF, acho pouco provável que se conheça as posições ideológicas de cada um deles.

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Assisti na última terça feira o filme chileno Machuca (http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/machuca/machuca.htm). O filme é baseado num fato real: em pleno governo Allende, fez-se uma experiência num dos colégios mais tradicionais de Santiago. Trouxeram para sala de aula crianças de outras classes sociais. E passaram a estudar, lado a lado, jovens da classe média alta chilena com outros indígenas dos bairros mais pobres de Santiago. O filme se passa no ano de 1973, quando a tensão política no Chile chega a seu máximo.

Será que esse diálogo entre classes é possível? Será que a ponte entre pólos opostos pode ser construída? Que resultado ela pode nos trazer? Machuca é um filme que leva a reflexão dessas questões.

terça-feira, julho 12, 2005

DESPUÉS DE LAS VACACIONES

Dei-me uma boa férias do blogue. Voltei do Brasil no início de julho e desde então fiquei absorvido nas leituras para o meu exame de qualificação. Aproveito a placidez enganosa dessa bolha em que vivo. As tardes são calmas, o céu é tão bonito, crianças andam com seus pais pelos jardins do campus, loiras californianas conversam por meio de seus celulares ou se ensimesmam com seus respectivos Ipods. Nem pareço estar no mesmo planeta das notícias que diariamente leio. Enquanto me absorvo na leitura árida de Crítica do Juízo, o mundo roda: Londres se enluta e luta contra o terrorismo, a Europa se assusta, o Brasil entra num redemoinho de denúncias - tristes - sobre a corrupção no governo federal, os Estados Unidos se chocam com uma jornalista presa por manter-se fiel às regras de seu ofício. Lameada de terror, corrupção e desalento, a história vai fazendo seu caminho, como uma pato manco, enquanto eu vivo na minha estufa.

Há algo de alienante na atividade intelectual. O que não deixa de ser irônico, por se tratar de uma atividade que busca entender o mundo de um modo mais agudo. No entanto, a sensação de descompasso com o mundo é real, e nos últimos dias, tem sido fortíssima.

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