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terça-feira, abril 26, 2005

DOWNFALL
(http://movies.yahoo.com/shop?d=hv&cf=info&id=1808642134)

Para trailer:

(http://movies.yahoo.com/shop?d=hv&cf=trailer&id=1808642134)

Há muito tempo estava querendo escrever a respeito desse filme sobre os últimos dias de Hitler. Primeiro, não há como não reconhecer a coragem do diretor Oliver Hirschbiegel em abordar um assunto tão espinhoso, que desafia qualquer estratégia de bem representá-lo. O filme teria o objetivo de mostrar o lado mais "humano" de Hitler. Eis outro problema seríssimo. Como construir um ângulo que pudesse investigar a intimidade do Fuhrer, sem cair em revisionismos toscos como o de Ernest Nolte - para quem o Holocausto não teve a dimensão que os historiadores haviam julgado - nem ficar na superfície de uma caricatura? É fácil dizer que ele é um monstro. Os fatos estão aí: a matança sistemática e racionalmente planejada de 6 milhões de judeus, além de outros bastantes milhões de pessoas que morreram na II Guerra Mundial. Difícil é explicar a origem dessa monstruosidade, ou ainda pior, a sustentação dessa monstruosidade. É muito mais fácil colocar a culpa do nazismo em individualidades malignas que em boa parte da sociedade alemã que comprou essa idéia.

Voltando a Downfall: O filme trata dos dez últimos dias de Hitler. Dias dramáticos. E aí é que está a grandeza do filme: tentar representar a ruína desse megalomaníaco. Essa seria faceta trágica (logo humana) da trama: como o ditador todo poderoso do III Reich, que vislumbrava um império de 1000 anos para a raça ariana, vê a derrocada de seus sonhos delirantes? Como ele se comporta na situação-limite de sua existência? Se querem saber a resposta, assistam ao filme...

Voltando pra casa, andando pelas ruas frias de Berkeley, ainda imerso naquele atmosfera perturbadora da Berlim de 1945, fiquei pensando em algumas coisas que também estão no filme. A questão da sustentação de Hitler. Como Hitler conseguiu cegar a população alemã até o final do III Reich? Será que apenas o Ministério da Informação, comandando por Goebbels, explica tamanha lavagem-cerebral? Essas são questões também espinhosas, que muito pouca gente quer responder. Sinto um constrangimento terrível por parte dos jovens alemães quando falam da II Guerra, sobretudo quando falam que seus avós ou bisavós estiveram no Exército Alemão. É interessante como uma política da memória foi construída na Alemanha, pra lembrar e ao mesmo tempo esquecer os horrores da II Guerra. É preciso lembrar pra não repetir os mesmos erros, mas é preciso esquecer para continuar vivendo - eis a arte de conviver com um trauma desses tamanhos nas costas.

Outra coisa que me chamou a atenção: Os oficiais do Exército Alemão, os mesmos que organizavam as "viagens" dos judeus para Auschwitz, eram em grande parte muito cultos. Leitores de Goethe, admiradores de Wagner e Beethoven (George Steiner tem um artigo sobre isso). E foram esses senhores, embebidos de alto humanismo goethiano, que orquestraram a destruição do Velho Continente. Porque essa é uma verdade que poucos gostam de re-visitar: A Europa em 1945 virou ruínas. O continente considerado berço da civilização ocidental havia se destruído. Eu acho engraçado quando as pessoas comparam os EUA e a Europa pra dizerem que a Europa tem mais "cultura". Mal sabem que não fosse o Plano Marshall do Tio Sam, a Europa ilustrada ainda estaria mancando por causa das feridas que a barbárie produzida intramuros provocou.

Noto mais uma vez como é difícil escrever sobre a II Guerra. Não seria exagero dizer que é o maior trauma ocidental, cheio de silêncios e feridas que nunca devem ser tocadas, palavras que nunca devem ser mencionadas. Até o século XX, a civilização européia havia produzido todo tipo de barbárie nos outros continentes, baseado na lógica do racismo e imperialismo. A Segunda Guerra foi o ponto em que a civilização européia teve que fazer um ajuste de contas com sua própria barbárie - sendo que dessa vez, dentro de seus próprios territórios.

terça-feira, abril 19, 2005

MAS SERÁ O BENEDITO?

O novo papa foi eleito. Joseph Ratzinger já pode ser chamado de Bento XVI. Mas como somos brasileiros e, segundo nossos melhores interpretes, adoramos uma intimidadezinha com os santos e as autoridades, chamemos Ratzinger de papa Zé Bento. Pra alguns, será apenas um papa sebento. Jogo de palavras à parte, vi muita gente descontente com a escolha, já que ela simbolizaria uma radicalização do retrocesso no Vaticano.

Não há como negar. Zé Bento é reaça mesmo. Com a minha idade, Zé Bento já havia sido soldado nazista (serviu numa unidade de combate anti-aérea). Desertou o exército alemão em maio de 1945. Pra quem conhece um pouco de história, sabe-se que os alemães renderam-se aos russos no dia 30 de abril de 1945. Ou seja, Zé Bento deixou de ser nazista no mês certo. Ainda assim, ficou retido como prisioneiro de guerra por um tempinho. Até ser papa, Zé Bento comandava a instituição que deu continuidade ao Tribunal da Inquisição. É capaz de, na contramão do ecumenismo atual, afirmar que a religião católica é o único cristianismo verdadeiro e que a Turquia não deveria ser aceita na Comunidade Européia porque é muçulmana.Vá lá, o homem não é lá a criatura mais progressista que já pisou na terra.

Mas e daí? Uma coisa é lamentar que Bush tenha sido eleito presidente dos EUA. Bush manda pra valer. Ele de fato pode fazer alguns estragos, internos ou externos. Mas e Zé Bento?Quantos católicos de fato seguem os princípios rigídos dessa teologia medieval que os padres do Opus Dei postulam? Só quem tem a perder é a própria Igreja Católica, com a evasão de clientes, quer dizer, de fiéis. A grande maioria dos católicos permanecerão "católicos" do jeito que sempre foram: fazendo planejamento familiar, usando camisinha, "jogando fora suas sementes". Discordarão de tudo que Zé Bento venha a dizer, mas continuarão se denominando católicos, apesar de não conhecer nenhum dos dogmas da Igreja, nem frequentarem uma igreja.


As únicas pessoas que devem temer o reacionarismo de Zé Bento são os próprios padres. Pois, até onde eu sei, o papa já não tem quase nenhuma influência sobre os católicos, nem na política internacional. Mas, na relação intramuros, exerce o poder digno dos déspotas que se consideram infalíveis. Só para esse mundo ainda imerso na Idade Média, Zé Bento e seu tribunal inquisitorial fazem sentido.

PS- Mas vou aqui também defender o papa. Muita gente acusa o papa de proliferar a AIDS com o seu posicionamento de não apoiar o uso de preservativo em relações sexuais. Sinceramente, não acho que o papa possa ser culpado por isso. O papa não só condena o uso de camisinha, mas condena o sexo fora dos limites do matrimônio (e mesmo no matrimônio, só para fins de reprodução). Ninguém pode dizer que transou com quinze pessoas no Carnaval sem camisinha porque, como bom católico, estava obedecendo os preceitos papais. Se é pra obedecer, tem que obedecer tudo.

quarta-feira, abril 13, 2005

SEM TEMPO.

Pra variar, ando sem tempo pra postar. Estou no meio da redação de meu projeto de doutorado e isso vem me consumindo as noites, os dias e o juízo. Tudo isso porque tenho uma grande dificuldade em escrever esses solenes "projetos de estudo". Parece uma proposta de casamento, ou discurso de candidato (que no final é a mesma coisa): você faz uma série de promessas, sabendo que não dará pra cumprir a metade. Espero terminá-lo, pelo menos em sua primeira versão, em algum momento dessa madrugada.

Que os deuses dos doutorandos insones me ajudem.

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