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segunda-feira, março 29, 2004

BALANÇO DE VIAGEM

Finalmente cheguei da viagem. Foi uma semana bastante intensa, com direito a muitas horas de trem e avião - mas que valeu a pena. Estive na maior parte do tempo em Genebra, na casa dos meus tios. Passei um dia com Jampa, meu amigo ainda da época de graduação, que hoje faz seu mestrado em Lyon, na França. E viajei para Londres, por um dia, para conhecer um pouco da cidade e visitar minha prima, que lá estuda.

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Gosto muito de Genebra. O pessoal da minha idade - meus primos e alguns de seus amigos, por exemplo - não gostam muito. Acham a cidade muito entediante. Talvez esse seja o preço de se pagar por uma cidade tão ordeira, pacata e na qual tudo funciona. No entanto, eu gosto de Genebra - o que prova que talvez seja eu um espírito velho num corpo jovem (jovem?). Agrada-me sua tranquilidade: a vida passa sem estresse. Há alguns pontos problemáticos: a cidade é o berço do grã-burguesismo europeu. Em outras palavras, circula-se muito dinheiro na cidade. O cosmopolitismo que lá existe é o cosmopolitismo do Capital e da diplomacia, portanto, trata-se de um cosmopolitismo um tanto restrito, pelos tipos sociais que o circunscreve.

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Já minha visita a Lyon foi prejudicada pela chuva. Chuvia muito. Ventava muito. Fazia muito frio. Mas o encontro com o velho (velho?) amigo foi muito bom. Conversamos bastante sobre nossas vidas de "exilado", nossos projetos intelectuais e os planos para revisitar Recife. Comemos num restaurante típico de Lyon, tomamos um Cote du Rhone (escrevi certo?) e andamos pela Lyon Velha.
O detalhe sórdido é que no outro dia descobri que acharam uma bombas por debaixo da linha de trem que liga a Suiça com a França - exatamente a linha de trem que eu peguei para visitá-lo em Lyon.

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Já Londres é aquele caldeirão de gente. Se você quiser fazer uma espécie de experimento antropológico, sugiro que vá ao metrô de Londres, no horário do rush. É um formigueiro assustador de gente. O pessoa do metrô precisa controlar o número de pessoas que entram nas estações. Senti-me num verdadeiro curral humano. Algo incomparável. O metrô de S., Paulo fica parecendo estação de trem do interior perto do metrô de Londres.
A visita foi boa, pois em alguns momentos - raros - chegou-se a fazer um solzinho em Londres. Fiz um tour básico pela cidade e depois fui, junto com minha tia, para Richmond, que fica mais no countryside, visitar minha prima.

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Por fim, os funcionário da imigração até que foram bonzinhos comigo na Europa. Tirando um pequeno incidente no aeroporto de Londres e no "security check-point" da Continental Airlines, não tive nenhum problema com o fato de ser parecido com árabe. Essa é uma das coisas engraçadas quando se estar no exterior: quando alguém olha para mim, ninguém pensa que sou brasileiro. Geralmente chuta que sou iraniano, ou "palestino". Em Berkeley, por TRÊS vezes, pessoas já falaram em Farsi ( a língua do Irã) comigo.

sexta-feira, março 19, 2004

SUIÇA...

Estou viajando para Suiça daqui a pouco. Amanhã terei um dia de vôo. San Francisco para Nova Iorque. Nova Iorque - Genebra. Depois é só aproveitar. Deverei ver meu amigo Jampa em Lyon. Vai ser bom. Suiça: como diria o dinheiro de Maluf, é o melhor lugar do mundo pra descansar...;o)

No próximo domingo (28 de março) eu conto as novidades.


quarta-feira, março 10, 2004

INVASÕES BÁRBARAS

Assisti ao filme que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro – Invasões Bárbaras. O filme é um murro no estômago. Um daqueles filmes que não deixam pedra sobre pedra. O ácido niilista corrói tudo. Ou melhor, quase tudo.

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O enredo está centrado no reencontro do filho com um pai que está à beira da morte. O pai é um intelectual esquerdista e mulherengo, ou como ele gostava de se denominar, “um socialista-sensual”. O filho não poderia ser mais diferente do pai: trata-se de um yuppie do mercado financeiro internacional - cheio da arrogância dos arrivistas.

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O cenário da ação é Quebec. O pai está internado num hospital superlotado – muito semelhante aos hospitais brasileiros. Tudo parece ser lento e burocrático. Contra esse estado de letargia, o filho irá se insurgir, comprando e subornando a todos que encontra no seu caminho: A diretora do hospital é corrupta, os policiais são corruptos. Resumo da ópera: o edifício social inteiro está em frangalhos – a corrupção (ativa e passiva) é apenas a ponta do iceberg.

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Se de um lado, o filho acha que pode comprar tudo e a todos com seu dinheiro – e no filme, de fato consegue fazer isso; doutro lado, o pai-intelectual não sai muito melhor no retrato. Ou melhor, pode-se dizer que a crítica é mais geral em relação à "classe" intelectual. Os intelectuais nesse universo têm uma relação meramente livresca com as realidades que pretendem conhecer ou criticar. Mudam suas perspectias com a maré das modas intelectuais: numa época foram marxistas, viraram marcusianos, depois se tornaram estrturalistas e se fragmentaram nos diferentes rótulos da inteligência pós-moderna: feminista, desconstrucionista, pós-estruralista, etc, etc.

Uma cena muito significativa do filme é quando Remy (o intelectual) faz uma autocrítica, lembrando de um episódio no qual, para flertar com uma chinesa deslumbrante que encontrara em Pequim, passou a fazer altos elogios à Revolução Cultural Maoísta ("Eu acho que a Revolução Cultural é maravilhosa!"). A frase era duplamente cafajeste, pois tinha a intenção de servir como o início de uma cantada e também era sintoma desse atitude livresca que os intelectuais (seja ocidentais ou não) têm em relação ao "outro" que tanto exotizam. Já que, como sabemos depois, a bela chinesa teve sua família liquidada pelo totalitarismo maoísta.

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Nesse mundo arruinado e em frangalhos, alguma coisa se salva. Os momentos mais tocantes desse filme são exatamente os da amizade. Os amigos de Remy estão com ele no seu último momento, dando-lhe apoio, contando-lhes histórias, reafirmando os laços de solidariedade e afeto que os cercam.





terça-feira, março 09, 2004

VOVÔ ALFREDO

Há cinco anos o velho patriarca saía da vida para entrar na (minha) memória. Toda vez que leio a Evocação do Recife de Manuel Bandeira, fico com coração apertado, lembrando de meu avô. De minhas férias na Encruzilhada. De sua cadeira balançando no terraço. Aquele mundo já não existe mais. Mas como dói...

Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.


sexta-feira, março 05, 2004

SOROS

Ontem, George Soros esteve aqui em Berkeley. E Berkeley, a cidade mais "romântica" dos Estados Unidos, no seu anticapitalismo - muitas vezes infantil - recebeu Soros de braços abertos. Por quê? Porque Soros é um dos líderes de um dos maiores movimentos anti-Bush já organizado entre os empresários e banqueiros americanos. O movimento se chama move on. Como seria fácil de prever,Soros está colocando bastante dinheiro na campanha de Kerry.
Mais uma vez fica patente o grau de radicalização política do país. O país inteiro parece estar dividido entre pró-Bush e anti-Bush. Essa distinção é tão importante que até um especulador financeiro como George Soros - que em outras ocasiões, seria alvo de tomates e ovos podres - é recebido com aplausos.
Engraçado que no texto que a universidade preparou para apresentar o mega-especulador, eles o chamam de "bilionário filantropista", que lutou contra o fascismo, etc. Cada um com sua perspectiva da realidade...
Dá até para ver um vídeo da palestra dele...


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(essa está muito boa!)
O Oscar de Zé Simão...

Melhor ator - José Dirceu
Melhor ator coadjuvante - Waldomiro
Melhor maquiagem - Marta-Botox Suplicy
Melhores efeitos especiais - Duda Mendonça
Melhor roteiro-adaptado: Palocci, do livro "Como afundar o Brasil" de Pedro Malan
Melhor curta: O PIB Brasileiro
Melhor ficção: Fome Zero
Melhor documentário: "Orando com los hermanos argentinos" dirigido por Benedita da Silva, direto de Buenos Aires.

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NADA DE NOVO SOB O SOL

Como não existe nada de novo sob o sol, Schumacher liderou os treinos para o GP da Austrália.

terça-feira, março 02, 2004

BRASIL - País (sem?do?) Futuro

O filósofo espanhol Ortega y Gasset já dizia que as circunstâncias de um homem produziam seu horizonte - e que esse horizonte definia a razão de ser da humanidade. Um homem sem horizontes é um homem já morto.

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Inicio com esse preâmbulo toscamente existencialista para falar do Brasil. Para constatar que já tivemos um horizonte melhor. Houve épocas em que tinhamos a impressão de estar caminhando ladeira acima - para o topo. Hoje, temos a sensação de que o trem está descarrilhando ladeira abaixo.

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Não sou um daqueles que vêem no passado uma época melhor que o presente. No entanto, acredito que o bom conhecimento de nossa história sempre fornece boas lições para a gente. Não se trata de dizer que na década de 50 e 60, o Brasil estivesse melhor do que hoje. Quase todos indicadores indicam o contrário. A nossa miséria, nossa desigualdade, nossos arcaísmos políticos - todos estavam piores do que hoje. Mas nosso horizonte era melhor. Havia a sensação de que poderíamos superar nossas "heranças malditas" (ao invés de ficar só chorando por causa delas) e alçar vôos em céus que antes não nos eram permitidos voar.

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O Brasil, da década de 30 até a década de 60, lutou contra a sabedoria convencional do comércio internacional, que advogava que países como o Brasil deveriam aproveitar suas "vantagens comparativas". Ou seja, deveríamos exportar bananas pelo resto de nossa vida. Graças ao empreendedorismo, à criatividade e ambição de uma geração inteira, o Brasil se industrializou e hoje exporta até aviões - embora o presidente da República prefira comprar Airbus.

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Esse tipo de guinada seria impensável pelos atuais czares da economia mercadista Palocci-Malan. Os nossos dirigentes hojem não passam de burocratas insossos. Têm medo do nervosismo de mercado. Trazem consigo o complexo de vira-latas que Nelson Rodrigues tanto denunciava. Essa para mim essa é a maior decepção do governo Lula: sua medicridade, sua falta de criatividade, sua aderência inconsteste às fórmulas convencionais.

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Enquanto o PIB descresce, os juros asfixiam a produção, as pequenas empresas vão à bancarrota (quando não são derrotadas pela burocracia e pelos impostos), o desemprego é crescente - assim como a economia informal, a violência explode e coloca em xeque a convivência minimamente civilizada. Nossas circunstâncias nos colocam um horizonte muito sombrio às nossas vistas.

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Em um dos estudos mais interessantes sobre a tão propalada identidade brasileira, o historiador José Murilo de Carvalho nos mostra um dado revelador sobre a sociedade em que estamos vivendo. Como pode ser visto na tabela n. 6, 60% dos brasileiros não confiam em brasileiros. Ou seja, devido ao mundo cão que vivemos, toda solidariedade brasileira (no sentido sociológico da palavra) se esgarçou. O próximo para nós é o ladrão em potencial, o cara que pode clonar meu cartão de crédito, que pode me sequestrar, que pode me assaltar, que pode me agredir, que pode me passar para trás. Numa sociedade na qual as pessoas já não confiam mais nas outras, qualquer tentativa de contrato social é pífia, sobrando apenas a dimensão palavrosa das leis.

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Por um lado é desalentador o horizonte brasileiro. Vivemos como Estragon e Vladimir, personagens becketianos, esperando por Godot. Esperando por um futuro que não chega. Por uma modernidade que só nos aparece de modo oblíquo e pelas portas dos fundos. Doutro lado, há algo de desafiador no Brasil, já que existe tanta coisa a ser feita. É preciso ser um pouco quixotesco para ter entusiasmo pelo Brasil e acreditar num outro país possível. Mas ainda assim é melhor do que acreditar naquele comentário de Levi-Strauss em Tristes trópicos de que o Brasil seria um país que pulou da barbárie para decadência sem nunca ter experimentado à civlização.




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