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sexta-feira, dezembro 10, 2004

NA CORRERIA

Final de semestre - muita correria. Amanhã darei minha última aula. Nesse final de semana, corrigirei as provas da aula de cinema brasileiro, na qual sou assistente. E, além de tudo isso, tenho que escrever um trabalho final, no qual comparo Gilberto Freyre com Fernando Ortiz, autor de El Contrapunteo Cubano. Nesse trabalho tento analisar os conceitos de plasticidade (Freyre) e transculturação (Ortiz). Como se vê, a vida anda muito chata e acadêmica. Dia 17 é o dia da liberdade. Quando jogo tudo pra cima e entro de férias - como sempre, muito merecidas...;o)

PS- Para provar que esse blogue também tem um lado sentimental - talvez até mesmo piegas -, ofereço aos meus corajosos três leitores, essa pérola de Roberto Carlos, o Portão...que em alguns dias estarei cantando!
http://www.malhanga.com/roberto_carlos/grandes_sucessos/disco01/conteudo/o_portao.wma

quarta-feira, dezembro 01, 2004

CONFISSÕES POP

Para provar que este blogue é pop, vou preencher um questionário, prática que era muito comum na época que eu fazia quarta série e ainda é muito comum nessas revistas como Contigo, Caras e outras que eu leio quando vou para o cabelereiro no Brasil (questionários que perguntam para os artistas quais são suas cores prediletas, pedem para falar de um homem bonito, uma mulher bonita, etc) .

Esse hábito de preencher questionários vem de longe. Na Inglaterra vitoriana já se preenchiam esses questionários, geralmente em reuniões de família, como passa-tempo. Um questionário que ficou bastante famoso foi o de Marx. Vejam aí abaixo. Depois eu preenchi o mesmo questionário, por puro exercício narcisista...

A vez de Marx

a qualidade que você mais aprecia

simplicidade

No homem
Força

na mulher:
Fraqueza
Nota: Marx não era politicamente correto.

Sua característica principal
Firmeza de propósitos

sua atividade preferida
Fuçar livros

o vício que você mais odeia
servidão

o vício que você mais tolera
gula

sua idéia de felicidade
lutar

sua idéia de miséria
resignar-se

sua aversão
Martin Tupper - um poeta vitoriano.

seu herói
Spartacus, Keppler

sua heroína

Gretchen (Marx gostava do brega...e também da heroína de Fausto de Goethe que tem o mesmo nome que a grande Gretchen brasileira)

poetas favoritos
Dante, Aeschylus, Shakespeare, Goethe
(Dante, Ésquilo, Shakespeare, Goethe)

prosa favorita:

Diderot, Lessing, Hegel, Balzac

prato predileto:

peixe

uma máxima
Nihil humani a me alienum puto[Ele não está p.... da vida. Só está querendo dizer que: Nada que é humano me é estranho]

seu lema:
De omnibus dubitandum [Duvide de tudo]

sua cor predileta:
vermelho. Nota: Claro né!

sua cor favorita de olhos e cabelo
preto

seus nomes prediletos
Jenny, Laura


A VEZ DE CESAR

A qualidade que você mais aprecia:

Inteligência (seja de esquerda, de direita, homem ou mulher, pessoas que cultivam a inteligência são mais interessantes)

Nota: Como se vê, ao contrário de Marx, sou totalmente PC, e não divido as qualidades entre homens e mulheres.

Sua característica principal:
determinação (embora já tenha sido mais determinado...)

Sua atividade preferida:

Ler. Se dependesse de mim, leria o tempo inteiro, em vez de ficar escrevendo.

O vício que mais odeia:
inveja

O vício que mais tolera:
A luxúria. (Como diria a Luciana Gimenez, qual é o problema com a luxúria? Ter carro do ano,viajar de primeira classe, não vejo nenhum problema com a luxúria...;o)) Pra falar a verdade, dentro dos sete pecados capitais o que mais tolero é a acídia. Por ser uma pessoa desleixada e desorganizada.

Idéia de Felicidade:
Escutar o piloto falando: senhores passageiros, preparem-se para aterrisagem no Aeroporto do Recife...

Idéia de Miséria:
qualquer tipo de alienação voluntária.

Poeta predileto:

Drummond, Pessoa (em português)

Auden e TS. Elliot (em inglês)

Prosa predileta:

Machado de Assis, João Guimarães Rosa.

Herói:
Macunaíma, nosso herói sem caráter.

Heroína:
Macabéa

Cor favorita de cabelo e de olhos:
concordo com Karl, preto.

Cor predileta:
branco - paz, neutralidade. Embora não goste de dia de branco...

Nome favorito:
Maria (pela simplicidade universal)

Prato predileto:
Carne de sol

Máxima:
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena (Pessoa).

Lema:

Navegar é preciso, viver não é preciso ( lema Escola de Sagres)


CONCLUSÃO:

O questionário de Marx é muito mais interessante. O rapaz cita até em latim. Bem, mas pelo menos eu não coloquei Gretchen, a rainha do bumbum na minha listinha. Um ponto pra mim.


QUEM TEM MEDO DE CLARICE LISPECTOR ?

- Não é possível viver uma vida correta na falsa. Theodor Adorno

Outro dia desses estava folheando Laços de Família, famoso livro de contos de Clarice Lispector e deparei-me com o conto chamado Amor - que aliás é o primeiro contro. Lá se encontra condensado toda uma tendência clariceana: a de questionar o mito romântico da mulher-família. Explico. Resumindo o conto de modo superficial, pode-se que dizer que o texto trata de um dia na vida de Ana, essa dona de casa exemplar, mãe amorosa, esposa fiel. Ana vive com muita dedicação o seu papel de dona de casa, mãe e esposa. Um dia ela vê uma cena, que a faz perceber, por um instante, que "a vida sadia que levava" até então "parecia-lhe um modo moralmente louco de viver". A heroína entra em crise, e analogamente, o seu mundo também entra em crise.

As implicações desse conto são vários. Primeiro, algo digno de nota, ao contrário de um Rubem Fonseca, que narra um mundo decaído, com personagens cínicos e abjetos, ou mesmo de Nelson Rodrigues, obcecado com as disfunções da família brasileira (bizarrices, pedofilia, pederastia, incestos, etc), Clarice escolhe um mundo (quase) perfeito. Clarice propõe a seu leitor: vou construir, através da imaginação, esse mundo ideal para a maioria das minhas leitoras. E o mundo ideal para as suas leitoras femininas de então era um bom casamento, filhos, um bom lar...todas as convenções pequeno-burguesas de felicidade e comunhão com a ordem social. No entanto, algo se passa com Ana. Num momento de epifania ela percebe que seu mundo gira em falso. Que aquele mundo e aquelas convenções estão muito aquém do que poderiam ser. Fenômeno semelhante ocorrerá com Joana, personagem principal do seu romance de estréia Perto do coração selvagem, e com outras personagens da contística clariceana. Mulheres de classe média alta que se vêem em crise diante da vida amorfa e vazia que levam. Diante da crise de uma "identidade feminina", sempre ligada à felicidade e à guarida do lar.

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