segunda-feira, dezembro 29, 2003
ORGULHO DE SER RECIFENSE
Saiu hoje uma pesquisa no Jornal do Commercio sobre a corrida eleitoral para prefeitura do Recife. Joaquim Francisco está na frente com 29%, Cadoca vem em segundo com 24% e João Paulo está com 22%. A grande piada da pesquisa: a margem de erro é de 5%. Eu nem sabia que a Datafolha fazia pesquisa com uma margem de erro dessas. Lembro-me das minhas aulas de métodos de pesquisas nas quais sempre se dizia que pesquisa com 5% de margem de erro não diz nada sobre nada. Ora, Joaquim Francisco está tecnicamente empatado com João Paulo. Onde já se viu alguém que está com 29% e outro com 22% estarem empatados tecnicamente?
O objetivo da pesquisa está claro: querem "turbinar" a candidatura de Joaquim Francisco e desgastar a candidatura de João Paulo. Como o povão gosta de candidato que está na frente da pesquisa...
Detalhe: João Paulo ganhou a eleição em 2000 sem nunca estar na frente das pesquisas de véspera de eleição. Se dependesse destes institutos de pesquisa, Roberto Magalhães seria o prefeito do Recife.
Saiu hoje uma pesquisa no Jornal do Commercio sobre a corrida eleitoral para prefeitura do Recife. Joaquim Francisco está na frente com 29%, Cadoca vem em segundo com 24% e João Paulo está com 22%. A grande piada da pesquisa: a margem de erro é de 5%. Eu nem sabia que a Datafolha fazia pesquisa com uma margem de erro dessas. Lembro-me das minhas aulas de métodos de pesquisas nas quais sempre se dizia que pesquisa com 5% de margem de erro não diz nada sobre nada. Ora, Joaquim Francisco está tecnicamente empatado com João Paulo. Onde já se viu alguém que está com 29% e outro com 22% estarem empatados tecnicamente?
O objetivo da pesquisa está claro: querem "turbinar" a candidatura de Joaquim Francisco e desgastar a candidatura de João Paulo. Como o povão gosta de candidato que está na frente da pesquisa...
Detalhe: João Paulo ganhou a eleição em 2000 sem nunca estar na frente das pesquisas de véspera de eleição. Se dependesse destes institutos de pesquisa, Roberto Magalhães seria o prefeito do Recife.
domingo, dezembro 28, 2003
O CASO EDWARD SAID
Minha amiga Alexandra chamou minha atenção para o debate em torno do "caso Edward Said". Vamos aos fatos: No dia 29 de setembro, Nelson Ascher, poeta e articulista da Folha de S. Paulo, escreveu o memorial de Edward Said. A animosidade de Ascher em relação a Said é clara nesse artigo. No dia 4 de outubro, um grupo de intelectuais brasileiros, muito deles renomados, assinam um abaixo-assinado contra esse artigo de Ascher.
Indo aos detalhes e apontando alguns dos equívocos desse "caso Edward Said" que s‹o reveladores de alguns dos nossos (maus) costumes intelectuais.
1) O primeiro equívoco vem da própria Folha de S. Paulo. O título do artigo de Ascher é "Edward Said (1935-2003)", que nos passa a impressão de ser um memorial - ou seja, uma avaliação isenta de sua obra e biografia. Esse gênero no Brasil é muitas vezes confundido com hagiografia. Basta morrer pra virar santo. De repente, as pessoas mortas ganham todas as qualidades do mundo. Até Roberto Marinho virou democrata quando morreu. O caso de Said foi o inverso. Recebeu um memorial que era s— detratação. O que a Folha deveria fazer era chamar outro articulista, talvez mais apreciador do legado intelectual de Said, e colocar ao lado do artigo de Ascher. Ou então escrever um memorial mais dentro dos conformes do gênero. Não fez nem uma coisa nem outra.
2) O artigo de Ascher é discutível na parte e no todo. Dizer que Said tinha objetivos idênticos aos terroristas da "causa palestina" é uma desconsideração a um homem que acreditava que a única possível solução para o problema palestino era um estado bi-nacional em Israel. Ou seja, a convivência e co-existência entre judeus e palestinos.
Edward Said esteve em Berkeley, no dia 19 de fevereiro de 2003. Sua palestra foi um acontecimento na cidade. Já estava fraco e tossia muito. Era um daqueles casos em que se podia ver a vitória do espírito sobre a matéria: a inteligência fina de um homem experimentando os limites mortais de um corpo perecível e decadente. Nessa palestra falou abertamente do "destino dos povos irmãos" (árabe e judeu), que viria a ser a convivência e coexistência no território sagrado para os dois. Um homem desse não pode ser considerado um defensor da "causa palestina" no sentido sectário da palavra, como Ascher quis passar.
Outros pontos do artigo de Ascher são igualmente contestáveis como o reducionismo com que ele trata Orientalismo, a obra mais importante de Said. Orientalismo é uma obra séria, que aponta para os problemas éticos e epistemológicos da representação do Outro. Óbvio que tem falhas e exageros, mas merece o tratamento crítico muito mais sério do que aquele que Ascher lhe dedicou, ao chama-la de "diabrite".
3) E para terminar, o manifesto assinado por 187 pessoas. Como disse Alexandra, esse é um gesto t’pico de Pindorama. Faz-se abaixo-assinado para tudo. Pois bem, nesse manifesto contra o artigo de Ascher, esses intelectuais colocam a questão da seguinte maneira:O escrito é uma baixeza deliberada e covarde, que merece repúdio, e não resposta.
Ora, se eles estão incomodados com o artigo de Ascher, deveriam responder, ponto por ponto, aquilo que consideram baixeza deliberada e covarde. Esse é o dever de intelectuais que lidam todo dia com debate de idéias. Deveriam pelo menos se dar ao trabalho de argumentar coerentemente. Sobretudo quando há pessoas do calibre de um Antonio Candido, Roberto Schwarz, Celso Furtado, Milton Hatoum, Ruy Fausto e etc.
No final das contas, esse é um procedimento t’pico da sociedade cordial, onde pessoas valem mais que idéias. Afinal, se um bucado de gente inteligente e progressista está assinando contra um artigo, então o público vai ficar do lado desse monte de gente cheia de inteligência e bom coração. "Diga quem assinou o manifesto e eu te direi se é uma boa causa ou não".
Ora, não precisava disso. Bastava uma pessoa - o Milton Hatoum, que conhece bem a obra de Said - escrever um artigo contestando os equívocos de Ascher. Não precisava de tanto barulho.
Minha amiga Alexandra chamou minha atenção para o debate em torno do "caso Edward Said". Vamos aos fatos: No dia 29 de setembro, Nelson Ascher, poeta e articulista da Folha de S. Paulo, escreveu o memorial de Edward Said. A animosidade de Ascher em relação a Said é clara nesse artigo. No dia 4 de outubro, um grupo de intelectuais brasileiros, muito deles renomados, assinam um abaixo-assinado contra esse artigo de Ascher.
Indo aos detalhes e apontando alguns dos equívocos desse "caso Edward Said" que s‹o reveladores de alguns dos nossos (maus) costumes intelectuais.
1) O primeiro equívoco vem da própria Folha de S. Paulo. O título do artigo de Ascher é "Edward Said (1935-2003)", que nos passa a impressão de ser um memorial - ou seja, uma avaliação isenta de sua obra e biografia. Esse gênero no Brasil é muitas vezes confundido com hagiografia. Basta morrer pra virar santo. De repente, as pessoas mortas ganham todas as qualidades do mundo. Até Roberto Marinho virou democrata quando morreu. O caso de Said foi o inverso. Recebeu um memorial que era s— detratação. O que a Folha deveria fazer era chamar outro articulista, talvez mais apreciador do legado intelectual de Said, e colocar ao lado do artigo de Ascher. Ou então escrever um memorial mais dentro dos conformes do gênero. Não fez nem uma coisa nem outra.
2) O artigo de Ascher é discutível na parte e no todo. Dizer que Said tinha objetivos idênticos aos terroristas da "causa palestina" é uma desconsideração a um homem que acreditava que a única possível solução para o problema palestino era um estado bi-nacional em Israel. Ou seja, a convivência e co-existência entre judeus e palestinos.
Edward Said esteve em Berkeley, no dia 19 de fevereiro de 2003. Sua palestra foi um acontecimento na cidade. Já estava fraco e tossia muito. Era um daqueles casos em que se podia ver a vitória do espírito sobre a matéria: a inteligência fina de um homem experimentando os limites mortais de um corpo perecível e decadente. Nessa palestra falou abertamente do "destino dos povos irmãos" (árabe e judeu), que viria a ser a convivência e coexistência no território sagrado para os dois. Um homem desse não pode ser considerado um defensor da "causa palestina" no sentido sectário da palavra, como Ascher quis passar.
Outros pontos do artigo de Ascher são igualmente contestáveis como o reducionismo com que ele trata Orientalismo, a obra mais importante de Said. Orientalismo é uma obra séria, que aponta para os problemas éticos e epistemológicos da representação do Outro. Óbvio que tem falhas e exageros, mas merece o tratamento crítico muito mais sério do que aquele que Ascher lhe dedicou, ao chama-la de "diabrite".
3) E para terminar, o manifesto assinado por 187 pessoas. Como disse Alexandra, esse é um gesto t’pico de Pindorama. Faz-se abaixo-assinado para tudo. Pois bem, nesse manifesto contra o artigo de Ascher, esses intelectuais colocam a questão da seguinte maneira:O escrito é uma baixeza deliberada e covarde, que merece repúdio, e não resposta.
Ora, se eles estão incomodados com o artigo de Ascher, deveriam responder, ponto por ponto, aquilo que consideram baixeza deliberada e covarde. Esse é o dever de intelectuais que lidam todo dia com debate de idéias. Deveriam pelo menos se dar ao trabalho de argumentar coerentemente. Sobretudo quando há pessoas do calibre de um Antonio Candido, Roberto Schwarz, Celso Furtado, Milton Hatoum, Ruy Fausto e etc.
No final das contas, esse é um procedimento t’pico da sociedade cordial, onde pessoas valem mais que idéias. Afinal, se um bucado de gente inteligente e progressista está assinando contra um artigo, então o público vai ficar do lado desse monte de gente cheia de inteligência e bom coração. "Diga quem assinou o manifesto e eu te direi se é uma boa causa ou não".
Ora, não precisava disso. Bastava uma pessoa - o Milton Hatoum, que conhece bem a obra de Said - escrever um artigo contestando os equívocos de Ascher. Não precisava de tanto barulho.
CONSERVADORISMO RECIFENSE
Saiu uma matéria engraçada no Jornal do Commercio do Recife. Ela versa sobre os valores conservadores do Recife na época em que antecedeu o golpe de 1964. Nessa reportagem saiu a reprodução de algumas dicas publicadas pelo próprio JC em maio de 1963. Eram dicas de como a boa esposa deveria se comportar:Nunca abra as cartas destinadas a seu marido, não lhe pergunte onde ele esteve e se ele chegar mais tarde em casa e nunca lhe faça cenas de ciúmes.
Fantástico. Se há uma época em que eu gostaria de viver, por um tempinho, era essa. Final da década de 60, início da década de 70. Não falo isso por ter nostalgia de um tempo que nunca vivi, nem porque gostaria de lutar contra a ditadura, ou porque gostaria de ser um soixant-huitard lutando em barricadas parisienses. Mas porque trata-se de uma época de muita transformação e transição. Qualquer sociólogo se deliciaria em observar.
Época em que um filme como A primeira noite de um homem (The Graduate, estrelando Dustin Hoffman) causava um certo escândalo no Recife por tratar de um affair entre um jovem recém-formado e a mãe alcoólatra de uma colega; época em que pastores faziam cruzadas e usavam toda sua boa teologia para pregar contra mulheres usando calças compridas; época em que gente como Ariano Suassuna se posicionava contra a entrada da guitarra elétrica nos palcos brasileiros (Ariano ainda hoje continua significando um monte de arcaismos); épocas em que mães cautelosas não deixavam seus filhos verem famoso retrato de uma mulher dando a luz a um bebê, que havia saído na Manchete ; época em que mulheres que se "desquitavam" praticamente morriam socialmente, tamanho o estigma que pesava sobre elas, sendo apontada nas ruas; época em que filhas de viúva não podiam ir à praia sozinhas, ou mesmo sairem sozinhas, porque afinal, o "que é que o povo vai pensar?".
Tudo isso hoje parece muito bobo. Tem até um caráter cômico, para uma geração pós-tudo (pós-ditadura, pós-revolução sexual, pós-aids, pós-utopia, pós-guerra fria) que já não se choca mais com nada. Mas, como falava antes, deve ser interessante registrar essas lentas transformações do cotidiano.
Saiu uma matéria engraçada no Jornal do Commercio do Recife. Ela versa sobre os valores conservadores do Recife na época em que antecedeu o golpe de 1964. Nessa reportagem saiu a reprodução de algumas dicas publicadas pelo próprio JC em maio de 1963. Eram dicas de como a boa esposa deveria se comportar:Nunca abra as cartas destinadas a seu marido, não lhe pergunte onde ele esteve e se ele chegar mais tarde em casa e nunca lhe faça cenas de ciúmes.
Fantástico. Se há uma época em que eu gostaria de viver, por um tempinho, era essa. Final da década de 60, início da década de 70. Não falo isso por ter nostalgia de um tempo que nunca vivi, nem porque gostaria de lutar contra a ditadura, ou porque gostaria de ser um soixant-huitard lutando em barricadas parisienses. Mas porque trata-se de uma época de muita transformação e transição. Qualquer sociólogo se deliciaria em observar.
Época em que um filme como A primeira noite de um homem (The Graduate, estrelando Dustin Hoffman) causava um certo escândalo no Recife por tratar de um affair entre um jovem recém-formado e a mãe alcoólatra de uma colega; época em que pastores faziam cruzadas e usavam toda sua boa teologia para pregar contra mulheres usando calças compridas; época em que gente como Ariano Suassuna se posicionava contra a entrada da guitarra elétrica nos palcos brasileiros (Ariano ainda hoje continua significando um monte de arcaismos); épocas em que mães cautelosas não deixavam seus filhos verem famoso retrato de uma mulher dando a luz a um bebê, que havia saído na Manchete ; época em que mulheres que se "desquitavam" praticamente morriam socialmente, tamanho o estigma que pesava sobre elas, sendo apontada nas ruas; época em que filhas de viúva não podiam ir à praia sozinhas, ou mesmo sairem sozinhas, porque afinal, o "que é que o povo vai pensar?".
Tudo isso hoje parece muito bobo. Tem até um caráter cômico, para uma geração pós-tudo (pós-ditadura, pós-revolução sexual, pós-aids, pós-utopia, pós-guerra fria) que já não se choca mais com nada. Mas, como falava antes, deve ser interessante registrar essas lentas transformações do cotidiano.
sexta-feira, dezembro 26, 2003
LIVRO RARO
Outro dia estava no Moe´s, que é o maior sebo de Berkeley e me deparei com uma pérola. O primeiro volume do Main Currents of Marxism: its rise, growth and dissolution do Leszek Kolakowski. Eu acho que no Brasil muito pouca gente conhece Kolakowski, sobretudo porque ele é um crítico do marxismo. Só soube do livro desse filósofo polonês através das resenhas de José Guilherme Merquior no seu livro As Idéias e a Forma. O mais curioso é que esses três livros podem se encontrados facilmente no Centro de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. Acho que eu fui o primeiro a tirá-lo da estante.Lembro que fiquei impressionado com o primeiro capítulo do livro que é uma história da dialética, de Heráclito a Hegel. Para quem gosta de história da filosofia, nada melhor.
Outro dia estava no Moe´s, que é o maior sebo de Berkeley e me deparei com uma pérola. O primeiro volume do Main Currents of Marxism: its rise, growth and dissolution do Leszek Kolakowski. Eu acho que no Brasil muito pouca gente conhece Kolakowski, sobretudo porque ele é um crítico do marxismo. Só soube do livro desse filósofo polonês através das resenhas de José Guilherme Merquior no seu livro As Idéias e a Forma. O mais curioso é que esses três livros podem se encontrados facilmente no Centro de Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco. Acho que eu fui o primeiro a tirá-lo da estante.Lembro que fiquei impressionado com o primeiro capítulo do livro que é uma história da dialética, de Heráclito a Hegel. Para quem gosta de história da filosofia, nada melhor.
PRESENTES DE NATAL
Ontem chegaram os meus presentes de Natal: a caixa modernista e a pequena enciclopédia Nenhum Brasil existe. A Caixa Modernista é fantástica. Vem com fac-simile de várias documentos da Semana de Arte Moderna. Vem também com fac-simile de Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade e Pau Brasil de Oswald de Andrade. Ademais há postais com quadros do modernismo, inclusive o famoso de Cícero Dias que é "Eu vi o mundo e ele começava pelo Recife". E para terminar, vem o A Revista Antropofágica -junto com o Manifesto Antropofágico de Oswald - e um CD organizado por Miguel Wisnik no qual há muita música modernista - Villa-Lobos incluidíssimo.
O outro livro é organizado por João Cezar Castro Rocha e trata exatamente sobre essa questão da identidade nacional. Castro Rocha pediu aos autores dos vários textos que fazem parte da enciclopédia para que não tentassem definir o Brasil. Ele é contra todo tipo de visão essencialista do Brasil. Há textos interessantes. Gilberto Freyre ganhou uma sessão só para ele. A Carta de Caminhas também tem uma sessão para si. Há textos sobre economia, política, literatura, ciências sociais em geral. Vale a pena comprar.
Ontem chegaram os meus presentes de Natal: a caixa modernista e a pequena enciclopédia Nenhum Brasil existe. A Caixa Modernista é fantástica. Vem com fac-simile de várias documentos da Semana de Arte Moderna. Vem também com fac-simile de Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade e Pau Brasil de Oswald de Andrade. Ademais há postais com quadros do modernismo, inclusive o famoso de Cícero Dias que é "Eu vi o mundo e ele começava pelo Recife". E para terminar, vem o A Revista Antropofágica -junto com o Manifesto Antropofágico de Oswald - e um CD organizado por Miguel Wisnik no qual há muita música modernista - Villa-Lobos incluidíssimo.
O outro livro é organizado por João Cezar Castro Rocha e trata exatamente sobre essa questão da identidade nacional. Castro Rocha pediu aos autores dos vários textos que fazem parte da enciclopédia para que não tentassem definir o Brasil. Ele é contra todo tipo de visão essencialista do Brasil. Há textos interessantes. Gilberto Freyre ganhou uma sessão só para ele. A Carta de Caminhas também tem uma sessão para si. Há textos sobre economia, política, literatura, ciências sociais em geral. Vale a pena comprar.
quinta-feira, dezembro 25, 2003
PRESIDENTE MACUNAÍMA
Num dia ele diz que nunca esteve tão feliz. Noutro dia reclama da solidão dos Palácios. Depois ele anda de Skate. Para em seguida chorar diante de um grupo de catadores de luxo. Pois bem, esse é o presidente Macunaíma, nosso herói sem caráter, o homem que ri e chora ao mesmo tempo.
Num dia ele diz que nunca esteve tão feliz. Noutro dia reclama da solidão dos Palácios. Depois ele anda de Skate. Para em seguida chorar diante de um grupo de catadores de luxo. Pois bem, esse é o presidente Macunaíma, nosso herói sem caráter, o homem que ri e chora ao mesmo tempo.
NATAL
Véspera de Natal. Lojas cheias de gente. Fui comprar papel para embrulhar os meus presentes. Tratou-se de uma verdadeira aventura. Mas finalmente consegui o que queria. Agora é só esperar Papai Noel.
Véspera de Natal. Lojas cheias de gente. Fui comprar papel para embrulhar os meus presentes. Tratou-se de uma verdadeira aventura. Mas finalmente consegui o que queria. Agora é só esperar Papai Noel.
segunda-feira, dezembro 22, 2003
SUNNY CALIFORNIA.
A Califórnia é de uma volubilidade impressionante. Depois de um dia de chuva incessante, hoje abriu um sol lindo. Dava até pra andar na rua só com um suéter fajuta. As pessoas foram pra rua, a Telegraph estava cheia de gente fazendo as compras de Natal. A International House está fazia. Parece uma casa assombrada.
Boa hora pra ler.
A Califórnia é de uma volubilidade impressionante. Depois de um dia de chuva incessante, hoje abriu um sol lindo. Dava até pra andar na rua só com um suéter fajuta. As pessoas foram pra rua, a Telegraph estava cheia de gente fazendo as compras de Natal. A International House está fazia. Parece uma casa assombrada.
Boa hora pra ler.
domingo, dezembro 21, 2003
A Time dessa semana traz as principais fotos do ano. Há uma que eu acho particularmente chocante. É a de Bush e seu ministério orando na mesa de trabalho da Casa Branca. É muito perigoso quando líderes misturam política com religião.
Imagine se Lula, por exempo, fizesse um ritual de candoblé junto com todos os ministros no Palácio do Planalto. Ia dar o que falar. Um presidente tem todo direito de ter sua fé e suas crenças, mas isso deve ficar no âmbito privado. Afinal ele é representante de uma nação plural, onde há muitas religiões e ateus, que devem coexistir e se respeitarem.
Para mim todo fundamentalismo é excludente e perigoso. Inclusive o cristão.
O mesmo Bush que ora para seu deus numa mesa na Casa Branca, é o mesmo que pede execução sumária para Saddam Hussein.
Imagine se Lula, por exempo, fizesse um ritual de candoblé junto com todos os ministros no Palácio do Planalto. Ia dar o que falar. Um presidente tem todo direito de ter sua fé e suas crenças, mas isso deve ficar no âmbito privado. Afinal ele é representante de uma nação plural, onde há muitas religiões e ateus, que devem coexistir e se respeitarem.
Para mim todo fundamentalismo é excludente e perigoso. Inclusive o cristão.
O mesmo Bush que ora para seu deus numa mesa na Casa Branca, é o mesmo que pede execução sumária para Saddam Hussein.
O dia amanheceu londrino, ou seja, quase que não amanheceu, tamanha chuva abafando qualquer resquício de luz solar que pudesse trazer alguma alegria pros filhos dos trópicos. Choveu, choveu, até dizer chega. O mais impressionante é que não se vê uma poça na cidade. Se fosse no Recife, estaríamos todos navegando.
* * * *
Em dias como esse, é melhor ficar na cama escutando Tom Jobim, ou então se afogar no trabalho. Fiz um pouco dos dois. Acordei ao meio dia. Fiquei duas horas na cama, escutando bossa nova, apreciando o dia cizento e o barulho da chuva na janela. Passei mais meia hora decidindo se devia fazer a barba ou não.Tal como um Hamlet, decaído e barbudo, fiquei no meu dilema: "To Shave or not to shave? that´s the question". Acabei adiando - ninguém iria me ver hoje, por que a barba bem feita? Outra meia hora para ver que roupas deveria lavar. Decidi adiar a lavagem de roupa. Fui estudar. Afinal, vim pra cá para isso.
Comecei a escrever o segundo capítulo de minha dissertação. O primeiro capítulo, do qual já falei anteriormente se chama "As ambiguidades da leitura" e trata das diferentes recepções obtidas pela obra freyreana. O segundo capítulo chama-se "Âs tensões da escrita". Nela tento discutir um pouco as contradições da prosa de Freyre e tentar entendê-las pelas diferentes fidelidades que ele estabeleceu para estruturar a sua narrativa. De um lado, GF é extremamente celebrador da sociabilidade patriarcal, do outro, utiliza-se de todo instrumental da moderna antropologia para fazer a crítica da escravidão - que é a instituição principal da sociedade patriarcal brasileira do sec. XIX. Daí nasce a tensão da escrita de CGS, que em diferentes trechos parece ter princípios de composição diferente. Tento entender tudo isso sob o prisma do ensaio, gênero que comporta essa heterogeneidade, esse teor compósito na sua construção. O que, de acordo com os critérios da moderna teoria social é um defeito, pois mostra incoerências profundas entre diferentes planos da obra, do ponto de vista do ensaio é uma vantagem.
Ufa, que resuminho chato, hein?
* * * *
Em dias como esse, é melhor ficar na cama escutando Tom Jobim, ou então se afogar no trabalho. Fiz um pouco dos dois. Acordei ao meio dia. Fiquei duas horas na cama, escutando bossa nova, apreciando o dia cizento e o barulho da chuva na janela. Passei mais meia hora decidindo se devia fazer a barba ou não.Tal como um Hamlet, decaído e barbudo, fiquei no meu dilema: "To Shave or not to shave? that´s the question". Acabei adiando - ninguém iria me ver hoje, por que a barba bem feita? Outra meia hora para ver que roupas deveria lavar. Decidi adiar a lavagem de roupa. Fui estudar. Afinal, vim pra cá para isso.
Comecei a escrever o segundo capítulo de minha dissertação. O primeiro capítulo, do qual já falei anteriormente se chama "As ambiguidades da leitura" e trata das diferentes recepções obtidas pela obra freyreana. O segundo capítulo chama-se "Âs tensões da escrita". Nela tento discutir um pouco as contradições da prosa de Freyre e tentar entendê-las pelas diferentes fidelidades que ele estabeleceu para estruturar a sua narrativa. De um lado, GF é extremamente celebrador da sociabilidade patriarcal, do outro, utiliza-se de todo instrumental da moderna antropologia para fazer a crítica da escravidão - que é a instituição principal da sociedade patriarcal brasileira do sec. XIX. Daí nasce a tensão da escrita de CGS, que em diferentes trechos parece ter princípios de composição diferente. Tento entender tudo isso sob o prisma do ensaio, gênero que comporta essa heterogeneidade, esse teor compósito na sua construção. O que, de acordo com os critérios da moderna teoria social é um defeito, pois mostra incoerências profundas entre diferentes planos da obra, do ponto de vista do ensaio é uma vantagem.
Ufa, que resuminho chato, hein?
sexta-feira, dezembro 19, 2003
BERKELEYANAS...
Coisas típicas de Berkeley:
- Aluno entrar de pijama em sala de aula. Geralmente usando os famigerados flip-flops...Já houve casos em que alunas entraram de pijama e com metade da calcinha aparecendo. O Ram vai me dizer que isso nunca acontece em aulas de engenharia elétrica. Pior para os engenheiros...
-Usar sandália. Quando eu era pequeno e ia pra Rodoviária do Recife, via o povo do interior chegando, usando calça jeans e usando sandália havaianas. Não sabiam que estariam no auge da moda de Berkeley. As mulheres adoram usar sapatos plataforma. Nada mais californiano do que uma loura andando de calça jeans e sapatos plataforma.
- Mendigo vegetariano. Há mendigos que não querem ver carne por perto. Outros não aceitam comida. Estão lá para pedir dinheiro. Portanto, querem dinheiro. Os cartazes dos mendigos são hilários: "Change for pot" (Trocado pra comprar maconha), "Change for heavy drugs"...mas a melhor foi essa: "I want money to go to Cuba and buy cocaine" (quero dinheiro pra ir para Cuba e comprar cocaína).
- Usar palavras politicamente corretas todo tempo. Em Berkeley não se fala que alguém é "deficiente físico" (disabled), pois a palavra traz uma conotação que indica incapacidade. O deficiente seria um desvio da norma. A palavra certa é "physically challenged". Ou seja, ele é uma pessoa normal como as outras, mas no seu dia-a-dia ele tem mais "desafios" para se locomover, ou realizar uma atividade que outras pessoas fariam mais facilmente. O deficiente não é incapaz de fazê-la. Só terá mais dificuldades e superará essas dificuldades como se fosse um desafio. Essa conversa toda pra dizer que todos somos iguais e ninguém é incapaz. O mesmo para "mentally challeged" que seria o deficiente mental. Eu costumo brinca que os estudantes de pós-graduação (com exceção do Ram) são "financially challenged".
Coisas típicas de Berkeley:
- Aluno entrar de pijama em sala de aula. Geralmente usando os famigerados flip-flops...Já houve casos em que alunas entraram de pijama e com metade da calcinha aparecendo. O Ram vai me dizer que isso nunca acontece em aulas de engenharia elétrica. Pior para os engenheiros...
-Usar sandália. Quando eu era pequeno e ia pra Rodoviária do Recife, via o povo do interior chegando, usando calça jeans e usando sandália havaianas. Não sabiam que estariam no auge da moda de Berkeley. As mulheres adoram usar sapatos plataforma. Nada mais californiano do que uma loura andando de calça jeans e sapatos plataforma.
- Mendigo vegetariano. Há mendigos que não querem ver carne por perto. Outros não aceitam comida. Estão lá para pedir dinheiro. Portanto, querem dinheiro. Os cartazes dos mendigos são hilários: "Change for pot" (Trocado pra comprar maconha), "Change for heavy drugs"...mas a melhor foi essa: "I want money to go to Cuba and buy cocaine" (quero dinheiro pra ir para Cuba e comprar cocaína).
- Usar palavras politicamente corretas todo tempo. Em Berkeley não se fala que alguém é "deficiente físico" (disabled), pois a palavra traz uma conotação que indica incapacidade. O deficiente seria um desvio da norma. A palavra certa é "physically challenged". Ou seja, ele é uma pessoa normal como as outras, mas no seu dia-a-dia ele tem mais "desafios" para se locomover, ou realizar uma atividade que outras pessoas fariam mais facilmente. O deficiente não é incapaz de fazê-la. Só terá mais dificuldades e superará essas dificuldades como se fosse um desafio. Essa conversa toda pra dizer que todos somos iguais e ninguém é incapaz. O mesmo para "mentally challeged" que seria o deficiente mental. Eu costumo brinca que os estudantes de pós-graduação (com exceção do Ram) são "financially challenged".
quinta-feira, dezembro 18, 2003
O MEC está pensando em criar uma lei para fazer com que ex-alunos das Federais contribuam com alguma coisa, depois de formado.
A idéia é boa. O formato é que não é bom. Não é preciso fazer uma lei para isso. Eu acho que basta haver uma conscientização, uma mobilização da própria sociedade civil em direção à importância da universidade.
Pessoalmente, sou muito grato à Universidade Federal de Pernambuco. Tenho um grande carinho por essa instituição, onde passei fantásticos três anos e meio de minha vida. Lá fiz amizades fenomenais - que só poderiam ter sido feitas num ambiente aberto e plural do campus -, ganhei meus primeiros trocadinhos com a bolsa do PET, formei uma identidade intelectual que só foi possível graças aos meios que a Universidade dispôs para mim (reclama-se muito das bibliotecas e do estado físico da universidade. Mas ainda é possível fazer muita coisa com elas...). Tive tempo até de arranjar um amor complicado. A universidade foi uma aventura existencial para mim.
Por essas e outras, faço questão de apoiar a minha universidade. Aqui nos EUA, por exemplo, as universidades americanas têm um departamento apenas para cuidar das relações com ex-alunos(Alumni Ofice). Esse povo tem dinheiro e influência. Ex-aluno de uma universidade americana tem todo interesse em investir naquela universidade, mesmo depois de formado. Afinal, é uma maneira de engradecer o seu próprio curriculum vitae. Ninguém quer dizer:" Estudei em Berkeley. Na minha época era ótima. Hoje está péssima"O ex-aluno quer mesmo é mostrar: "estudei em Berkeley. Continua sendo a melhor universidade pública do mundo."
No Brasil, a desarticulação é total. Tanto engenheiro, médico, advogado, jornalista que sai da universidade, cuspindo no prato que comeu. Quanto gente nunca mais visita, nunca mais quer saber como estão os laboratórios, as bibliotecas. Só depois quando os filhos crescem, vão voltar a se preocupar com a universidade. Mesmo assim, por motivos fúteis e pequeno-burgueses. Ficam irritados porque a universidade está fazendo muita greve e assim por diante.
A universidade só vai sair do buraco quando for uma prioridade nacional. Quando a sociedade civil se mobilizar. Só assim a universidade também poderá exercer sua função social.
Por falar em ex-aluno da UFPE, só agora me dei conta que dois ministros da aréa social do governo Lula são ex-alunos da Federal de Pernambuco: o próprio ministro da Educação, Cristovam Buarque (formado em engenharia) e o ministro da Saúde, Humberto Costa. Vamos ver se o exemplo vai vir deles.
A idéia é boa. O formato é que não é bom. Não é preciso fazer uma lei para isso. Eu acho que basta haver uma conscientização, uma mobilização da própria sociedade civil em direção à importância da universidade.
Pessoalmente, sou muito grato à Universidade Federal de Pernambuco. Tenho um grande carinho por essa instituição, onde passei fantásticos três anos e meio de minha vida. Lá fiz amizades fenomenais - que só poderiam ter sido feitas num ambiente aberto e plural do campus -, ganhei meus primeiros trocadinhos com a bolsa do PET, formei uma identidade intelectual que só foi possível graças aos meios que a Universidade dispôs para mim (reclama-se muito das bibliotecas e do estado físico da universidade. Mas ainda é possível fazer muita coisa com elas...). Tive tempo até de arranjar um amor complicado. A universidade foi uma aventura existencial para mim.
Por essas e outras, faço questão de apoiar a minha universidade. Aqui nos EUA, por exemplo, as universidades americanas têm um departamento apenas para cuidar das relações com ex-alunos(Alumni Ofice). Esse povo tem dinheiro e influência. Ex-aluno de uma universidade americana tem todo interesse em investir naquela universidade, mesmo depois de formado. Afinal, é uma maneira de engradecer o seu próprio curriculum vitae. Ninguém quer dizer:" Estudei em Berkeley. Na minha época era ótima. Hoje está péssima"O ex-aluno quer mesmo é mostrar: "estudei em Berkeley. Continua sendo a melhor universidade pública do mundo."
No Brasil, a desarticulação é total. Tanto engenheiro, médico, advogado, jornalista que sai da universidade, cuspindo no prato que comeu. Quanto gente nunca mais visita, nunca mais quer saber como estão os laboratórios, as bibliotecas. Só depois quando os filhos crescem, vão voltar a se preocupar com a universidade. Mesmo assim, por motivos fúteis e pequeno-burgueses. Ficam irritados porque a universidade está fazendo muita greve e assim por diante.
A universidade só vai sair do buraco quando for uma prioridade nacional. Quando a sociedade civil se mobilizar. Só assim a universidade também poderá exercer sua função social.
Por falar em ex-aluno da UFPE, só agora me dei conta que dois ministros da aréa social do governo Lula são ex-alunos da Federal de Pernambuco: o próprio ministro da Educação, Cristovam Buarque (formado em engenharia) e o ministro da Saúde, Humberto Costa. Vamos ver se o exemplo vai vir deles.
Leio no jornal que Marcos Maciel é o novo "imortal" da Academia Brasileira de Letras. Salve! Salve!
A gente sabe que a ABL é politiqueira, mas às vezes ela própria se supera.
Gente como José Sarney ou Paulo Coelho podem ter livros de qualidade discutível, mas não há dúvida que eles escreveram algo. Mas Marcos Maciel? Vocês se lembram de algum livro escrito por ele? E Ivo Pitanguy? Roberto Marinho ? Gente da mesma leva.
Um dos episódios mais engraçados da ABL foi quando Getúlio Vargas resolveu se candidatar a uma de suas cadeiras. Na época, Vargas era ditador do Estado Novo. O cara mandava e desmandava no Brasil. Quem iria ter coragem de votar contra ele? Pois bem, Vargas foi eleito por unanimidade. Uma das poucas em toda história da instituição.
Outra história engraçada é a de Manuel Bandeira. O famoso poeta pernambucano se candidatou a uma vaga de imortal na Academia e logo percebeu que tinha um problema. O seu livro História Concisa da Poesia Brasileira não falava da metade dos poetas da ABL. Então, esses poetas ficaram um pouco ressentidos por não estarem no livro de Bandeira e ameaçavam a não votar nele... sabe como é, Brasil é o país do jeitinho. Tem gente que chama isso cordialidade. Outros dizem que é mediocridade...Eu estou mais com o segundo grupo.
A gente sabe que a ABL é politiqueira, mas às vezes ela própria se supera.
Gente como José Sarney ou Paulo Coelho podem ter livros de qualidade discutível, mas não há dúvida que eles escreveram algo. Mas Marcos Maciel? Vocês se lembram de algum livro escrito por ele? E Ivo Pitanguy? Roberto Marinho ? Gente da mesma leva.
Um dos episódios mais engraçados da ABL foi quando Getúlio Vargas resolveu se candidatar a uma de suas cadeiras. Na época, Vargas era ditador do Estado Novo. O cara mandava e desmandava no Brasil. Quem iria ter coragem de votar contra ele? Pois bem, Vargas foi eleito por unanimidade. Uma das poucas em toda história da instituição.
Outra história engraçada é a de Manuel Bandeira. O famoso poeta pernambucano se candidatou a uma vaga de imortal na Academia e logo percebeu que tinha um problema. O seu livro História Concisa da Poesia Brasileira não falava da metade dos poetas da ABL. Então, esses poetas ficaram um pouco ressentidos por não estarem no livro de Bandeira e ameaçavam a não votar nele... sabe como é, Brasil é o país do jeitinho. Tem gente que chama isso cordialidade. Outros dizem que é mediocridade...Eu estou mais com o segundo grupo.
Ontem foi um dia daqueles. Fiquei corrigindo 30 provas finais de português, calculando notas. QUe trabalho mais chato. Essa parte do trabalho de professor sem dúvida alguma é a mais enfadonha.
Tenho que correr para almoçar. São duas e vinte da tarde e estou naquele meu "vagabundo mode". Ainda tenho que fazer algumas coisinhas hoje. Mas a mais excitantes será aguar as flores de uma amiga, e esquentar o carro do Ram.
Daqui a pouco tem mais.
Tenho que correr para almoçar. São duas e vinte da tarde e estou naquele meu "vagabundo mode". Ainda tenho que fazer algumas coisinhas hoje. Mas a mais excitantes será aguar as flores de uma amiga, e esquentar o carro do Ram.
Daqui a pouco tem mais.
terça-feira, dezembro 16, 2003
Agora o blogue tem comentários! Que chique!
A imprensa americana só tem um assunto: a captura espetacular de Saddam Hussein. Parece que isso injetou certa auto-estima no "instinto Rambo" dos americanos. O pior é que essa captura está sendo considerada como uma conquista do Gerge W. Bush, o que impulsionaria sua reeleição (já que a economia está dando sinais de recuperação). Isso, smi, é inacreditável e lembra uma piada de mal gosto.
Minha impressão é que a opinião pública americana não sabe distinguir ficção da realidade e acha que estamos vivendo um enredo hollywoodiano, no qual a captura do "bad guy" levará ao "happy end". Isso é tão forte no imaginário americano que até a oposição endossa esse tipo de raciocínio. Ontem, Howard Dean, o provável candidato democrata para presidência no próximo ano, disse que "aquele dia era para Bush celebrar", e que ele não faria nenhum comentário. O outro candidato também achou linda a captura de Hussein.
Uma coisa nada tem a ver com a outra. Os EUA não invadiram o Iraque para capturar um tirano, mas porque, segundo a versão da Casa-Branca, aquele tirano tinha armas de destruição em massa que ameaçavam o povo americano. Invadir o Iraque seria uma espécie de ataque preventivo. Não se precisa dizer quanto isso era uma balela. Mas como não acharam arma nenhuma, agora os republicanos vão se agarrar com todas as forças naquela imagem famélica do Hussein. E preparem-se para o sensacionalismo e todo esparro que o governo americano vai fazer nesse julgamento de Hussein. Não deixa de ser farisaico, os EUA, que sempre foi contra o Tribunal Internacional de Penas, estarem agora defendendo a punição dos tiranos no mundo...
Enquanto isso, no Brasil...
Minha impressão é que a opinião pública americana não sabe distinguir ficção da realidade e acha que estamos vivendo um enredo hollywoodiano, no qual a captura do "bad guy" levará ao "happy end". Isso é tão forte no imaginário americano que até a oposição endossa esse tipo de raciocínio. Ontem, Howard Dean, o provável candidato democrata para presidência no próximo ano, disse que "aquele dia era para Bush celebrar", e que ele não faria nenhum comentário. O outro candidato também achou linda a captura de Hussein.
Uma coisa nada tem a ver com a outra. Os EUA não invadiram o Iraque para capturar um tirano, mas porque, segundo a versão da Casa-Branca, aquele tirano tinha armas de destruição em massa que ameaçavam o povo americano. Invadir o Iraque seria uma espécie de ataque preventivo. Não se precisa dizer quanto isso era uma balela. Mas como não acharam arma nenhuma, agora os republicanos vão se agarrar com todas as forças naquela imagem famélica do Hussein. E preparem-se para o sensacionalismo e todo esparro que o governo americano vai fazer nesse julgamento de Hussein. Não deixa de ser farisaico, os EUA, que sempre foi contra o Tribunal Internacional de Penas, estarem agora defendendo a punição dos tiranos no mundo...
Enquanto isso, no Brasil...
Hoje foi dia de aplicar prova final para os alunos. Amanhã devo corrigi-las e depois: férias. Férias que vou aproveitar para estudar.
Em janeiro recomeçam-se as aulas. Mas o semestre da primavera é o melhor de todos. Pois no final a gente sempre volta para o Brasil.
Em janeiro recomeçam-se as aulas. Mas o semestre da primavera é o melhor de todos. Pois no final a gente sempre volta para o Brasil.
segunda-feira, dezembro 15, 2003
Finalmente terminei de ler um livro que trouxe comigo do Brasil chamado Conversa com Historiadores Brasileiros. Para quem se interessa por história, ou melhor, pelos meandros da investigação historiográfica, vale a pena checar, sobretudo os testemnhos de Luiz Felipe Alencastro (que é cronista da Veja), José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Mello, João Reis e Nicolau Sevcenko (descobri um dia desses que Sevcenko foi contratado para ensinar história em Harvard).
Achei interessante particularmente a entrevista de Evaldo Cabral de Mello. Ele é o único historiador do grupo entrevistado que nem sequer é historiador. Não estou falando de doutorado em História não. Evaldo Cabral de Mello - que é irmão do poeta João Cabral - não terminou nem a graduação. Ele fez o vestibular para o Instituto Rio Branco, do Itamaraty, na época em que o concurso não exigia ensino superior. Ele disse que nunca se adaptou nem na universidade, nem no Itamaraty. Quando tinha uns 20 anos, chegou a entrar no curso de ciências sociais da Federal de Pernambuco, mas achou muito desinteressante.
Isso me faz pensar numa série de pessoas que conheci ao longo de minha vida estudantil que eram inteligentíssimas mas nunca conseguiram se adaptar à instituição universitária, tal como ela é, cheio de "burrocracias". E está ai: Evaldo Cabral é o maior historiador brasileiro vivo.
Outro aspecto com o qual muito me simpatizo com Evaldo Cabral é a sua crítica ao nativismo pernambucano. Ele é filho de uma família tradicional de pernambuco, e na entrevista afirmou que desde muito cedo, sua mãe lhe dizia que ele era pernambucano antes de ser brasileiro. QUe se houvesse uma guerra entre Brasil e Pernambuco não haveria dúvida de que lado eles estariam. Identifico-me totalmente com isso, pois minha mãe também é muito nativista - e que ninguém fale mal de Pernambuco perto dela. Foi por causa disso que Evaldo abraçou a história. Para lutar contra esse fantasma (Freud explica...) Seu primeiro livro é exatamente sobre a origem do nativismo pernambucano, que segundo ele, veio da época da expulsão dos holandeses.
Sou contra esse excesso de nativismo pois acredito que, dentro da correlação de forças de poder em Pernambuco, isso acaba servindo como ingrediente ideológico para o conformismo. Um estado como Pernabuco deveria se celebrar menos, e se olhar mais no espelho. Deveria, isso sim, cultivar um momento de auto-conhecimento de suas mazelas, que não são poucas. E tentar corrigi-las. Mas a elite de Pernambucâncer prefere celebrar um identidade pseudo-revolucionária para escamotear qualquer revolução digna do nome.
Achei interessante particularmente a entrevista de Evaldo Cabral de Mello. Ele é o único historiador do grupo entrevistado que nem sequer é historiador. Não estou falando de doutorado em História não. Evaldo Cabral de Mello - que é irmão do poeta João Cabral - não terminou nem a graduação. Ele fez o vestibular para o Instituto Rio Branco, do Itamaraty, na época em que o concurso não exigia ensino superior. Ele disse que nunca se adaptou nem na universidade, nem no Itamaraty. Quando tinha uns 20 anos, chegou a entrar no curso de ciências sociais da Federal de Pernambuco, mas achou muito desinteressante.
Isso me faz pensar numa série de pessoas que conheci ao longo de minha vida estudantil que eram inteligentíssimas mas nunca conseguiram se adaptar à instituição universitária, tal como ela é, cheio de "burrocracias". E está ai: Evaldo Cabral é o maior historiador brasileiro vivo.
Outro aspecto com o qual muito me simpatizo com Evaldo Cabral é a sua crítica ao nativismo pernambucano. Ele é filho de uma família tradicional de pernambuco, e na entrevista afirmou que desde muito cedo, sua mãe lhe dizia que ele era pernambucano antes de ser brasileiro. QUe se houvesse uma guerra entre Brasil e Pernambuco não haveria dúvida de que lado eles estariam. Identifico-me totalmente com isso, pois minha mãe também é muito nativista - e que ninguém fale mal de Pernambuco perto dela. Foi por causa disso que Evaldo abraçou a história. Para lutar contra esse fantasma (Freud explica...) Seu primeiro livro é exatamente sobre a origem do nativismo pernambucano, que segundo ele, veio da época da expulsão dos holandeses.
Sou contra esse excesso de nativismo pois acredito que, dentro da correlação de forças de poder em Pernambuco, isso acaba servindo como ingrediente ideológico para o conformismo. Um estado como Pernabuco deveria se celebrar menos, e se olhar mais no espelho. Deveria, isso sim, cultivar um momento de auto-conhecimento de suas mazelas, que não são poucas. E tentar corrigi-las. Mas a elite de Pernambucâncer prefere celebrar um identidade pseudo-revolucionária para escamotear qualquer revolução digna do nome.
domingo, dezembro 14, 2003
Bernardo Jurema me convidou para aderir ao boicote à revista Veja. De fato, a Veja é um pérola da arrogância e do jornalismo "sob encomenda". A cobertura que ela fez da matéria sobre a Alca, há algumas semanas atrás, foi ridícula. A Veja vê o mundo em preto e branco. Ou você adere aos ideias liberalóides dela, ou você está advogando que o Brasil vire uma Albânia.
Lembro que na época dos escândalos de Jader Barbarlho e ACM, a Veja não tocava nos podres de ACM e centrava todo seu fogo em Jader Barbalho. A Istoé fazia o oposto: ficava procurando os podres de ACM e poupava Jader um pouco mais. Essa é a qualidade de nosso jornalismo.
Infelizmente nós não temos revistas como New Republic, The Economist e New Yorker, que apesar de serem conservadoras (refiro-me sobretudo as duas primeiras), não vêem o mundo com o simplismo botocudo da Veja.
Brasileiro adora dizer que americano não sabe de nada além dos Estados Unidos. Isso pode ter seu grau de verdade. Mas veja, por exemplo, os jornais americanos. O New York Times tem uma sessão internacional que cobre todos os continentes. Todo dia se tem alguma notícia de África, Ásia, Oriente Médio, América do Sul e Europa. A parte Mundo da Folha de São Paulo é anêmica, comparada com isso, e a maioria das notícias são reproduções de agências de notícia como Reuters. Pra sermos justos, temos que reconhecer o brasileiro também é muito desinformado.
E quando inventa de falar sobre algum acontecimento externo, fazem-no com a perícia dos palpiteiros de futebol: " E rapaz, essa Alca aí, pra mim, é entregar o ouro ao bandido!". "Não rapaz, tá tudo globalizado...tem que globalizar também pô! Senão a gente fica pra trás dos gringo!"...e assim segue...e assim segue...filosofia de boteco...no seu maior grau.
Lembro que na época dos escândalos de Jader Barbarlho e ACM, a Veja não tocava nos podres de ACM e centrava todo seu fogo em Jader Barbalho. A Istoé fazia o oposto: ficava procurando os podres de ACM e poupava Jader um pouco mais. Essa é a qualidade de nosso jornalismo.
Infelizmente nós não temos revistas como New Republic, The Economist e New Yorker, que apesar de serem conservadoras (refiro-me sobretudo as duas primeiras), não vêem o mundo com o simplismo botocudo da Veja.
Brasileiro adora dizer que americano não sabe de nada além dos Estados Unidos. Isso pode ter seu grau de verdade. Mas veja, por exemplo, os jornais americanos. O New York Times tem uma sessão internacional que cobre todos os continentes. Todo dia se tem alguma notícia de África, Ásia, Oriente Médio, América do Sul e Europa. A parte Mundo da Folha de São Paulo é anêmica, comparada com isso, e a maioria das notícias são reproduções de agências de notícia como Reuters. Pra sermos justos, temos que reconhecer o brasileiro também é muito desinformado.
E quando inventa de falar sobre algum acontecimento externo, fazem-no com a perícia dos palpiteiros de futebol: " E rapaz, essa Alca aí, pra mim, é entregar o ouro ao bandido!". "Não rapaz, tá tudo globalizado...tem que globalizar também pô! Senão a gente fica pra trás dos gringo!"...e assim segue...e assim segue...filosofia de boteco...no seu maior grau.
Ontem foi dia de Cinema Japonês aqui em Berkeley. Está passando uma mostra de cinema japonês no Pacific Film Archive, que é o cinema da Universidade. O filme a que assisti se chama Early Summer e foi dirigido por Yasujiro Ozu, em 1951. Filme espirituoso e cômico, mostrando um Japão já refeito da Grande Guerra, e vivendo um processo de transição social, no qual os valores milenares da tradição entravam em choque com valores ocidentais. Sobretudo no que diz respeito ao casamento e a posição das mulheres na sociedade japonesa.
Depois assisti a Lost in Translation , um filme americano, que por coincidência também falava do Japão(mas esse não fazia parte do festival). Trata-se de um ator americano que vai para Tokyo fazer propaganda de um whisky, fica com um baita jet-lag, além de não entender muito a cultura dos japoneses. Lá ele se encontra com uma americana.
Ponto fraco do filme: em muitos momentos o filme exagera na imagem estereotipada dos japoneses. Um ponto interessante do filme: trata-se de um filme diferente, sem aquela sabor de água com açucar, e sem ser previsível. O ritmo das filmagem é bem diferente daquele que Hollywood nos acostumou. Um diretor mais convencional teria editado, cortado mais as cenas para torná-lo mais dinâmico e palatável para o pública. Sophia Coppola embarca nesse outro ritmo, deixando as cenas mais longas e apostando mais em sutilezas das cenas do que na elaboração dos diálogos.
Depois assisti a Lost in Translation , um filme americano, que por coincidência também falava do Japão(mas esse não fazia parte do festival). Trata-se de um ator americano que vai para Tokyo fazer propaganda de um whisky, fica com um baita jet-lag, além de não entender muito a cultura dos japoneses. Lá ele se encontra com uma americana.
Ponto fraco do filme: em muitos momentos o filme exagera na imagem estereotipada dos japoneses. Um ponto interessante do filme: trata-se de um filme diferente, sem aquela sabor de água com açucar, e sem ser previsível. O ritmo das filmagem é bem diferente daquele que Hollywood nos acostumou. Um diretor mais convencional teria editado, cortado mais as cenas para torná-lo mais dinâmico e palatável para o pública. Sophia Coppola embarca nesse outro ritmo, deixando as cenas mais longas e apostando mais em sutilezas das cenas do que na elaboração dos diálogos.
A expulsão dos radicais também deverá dar o que falar. Gente como Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, marxistas históricos, disseram que também iriam se desligar. Chico de Oliveira escreveu uma carta bonita à Folha de S. Paulo, explicando seu desligamento do Partido. Sem dúvida, hoje não é o melhor dia do Partido dos Trabalhadores.
O domingo amanheceu cheio de novidades: os americanos prenderam Sadam, os radicais do PT foram expulsos.
Bush proclama que a Era Negra do Iraque acabou. Talvez só esteja continuando, com outros tipo de repressão...
Bush proclama que a Era Negra do Iraque acabou. Talvez só esteja continuando, com outros tipo de repressão...
sábado, dezembro 13, 2003
Vi uma notícia na Veja bem interessante: Chocolate quente faz bem pra saúde. Tem MUITO mais antioxidantes que vinho e chá. Muito bom saber disso. Afinal, eu tomo um chocolate quente todo dia. Todo dia, quando estamos estudando ou enrolando, a gente sai da I-House e vai para o Estrada, tomar um chocolate quente, às vezes com um "cheese-cake"...mas nessa besteirinha, vão-se quase 5 dólares...
A revista Veja está com a macaca pra cima da política externa do governo Lula. Logo a política externa, quase uma unanimidade entre os críticos do governo. E centrou seu fogo novamente no chanceler Celso Amorim, ressuscitando a alcunha de "barbudinho", que foi dada pelo embaixador americano na época do governo Geisel para um grupo de jovens diplomatas brasileiros - Celso Amorim, Roberto Abdenur, Ronaldo Sardenberg - que se caracterizava pelo discurso "antiamericano".
A revista fala mal da viagem do governo Lula ao Oriente Médio, dizendo que nada acrescentou para o país, seja sob o ponto de vista comercial ou político. Sinceramente, acho que essa viagem não foi boa idéia. Mas, acredito eu, que isso tenha sido mais idéia do assessor diplomático do presidente, Marco Aurélio Garcia, do que do chanceler. Se alguém que admiro no governo Lula é exatamente Celso Amorim. É profissional, tem experiência ampla e não é domesticado. O G-20 que está se reunindo agora em Brasília foi todo articulado pelo chanceler brasileiro. E o G-20 é um conquista ampla no debate do comércio internacional. Quem leu a edição da "The Economist" sobre a Conferência de Cancun sabe da força que o Brasil teve na rearticulação de forças no debate. Mas no Brasil, o que é que sai nos jornais sobre política externa? Lula visitando múmias.
E diga-se de passagem: esse aspecto mais interessante da política externa brasileira já vinha sendo desenvolvida anteriormente pelo Itamaraty de Fernando Henrique Cardoso (até porque em Doha, Celso Amorim já era um dos principais negociadores brasileiros porque era representante do Brasil na OMC).
A revista fala mal da viagem do governo Lula ao Oriente Médio, dizendo que nada acrescentou para o país, seja sob o ponto de vista comercial ou político. Sinceramente, acho que essa viagem não foi boa idéia. Mas, acredito eu, que isso tenha sido mais idéia do assessor diplomático do presidente, Marco Aurélio Garcia, do que do chanceler. Se alguém que admiro no governo Lula é exatamente Celso Amorim. É profissional, tem experiência ampla e não é domesticado. O G-20 que está se reunindo agora em Brasília foi todo articulado pelo chanceler brasileiro. E o G-20 é um conquista ampla no debate do comércio internacional. Quem leu a edição da "The Economist" sobre a Conferência de Cancun sabe da força que o Brasil teve na rearticulação de forças no debate. Mas no Brasil, o que é que sai nos jornais sobre política externa? Lula visitando múmias.
E diga-se de passagem: esse aspecto mais interessante da política externa brasileira já vinha sendo desenvolvida anteriormente pelo Itamaraty de Fernando Henrique Cardoso (até porque em Doha, Celso Amorim já era um dos principais negociadores brasileiros porque era representante do Brasil na OMC).
Acabei de ler no New York Times que a gripe que eu peguei na última semana e da qual ainda estou me recuperando faz parte de uma grande epidemia que está atingindo o Oeste dos Estados Unidos. Os hospitais estão lotado de gente, com gripe. É a influenza, como dizem os americanos....
Enquanto isso, no Brasil...
Enquanto isso, no Brasil...
Cheguei agora do Nino's - restaurante brasileiro aqui em Berkeley. Fui lá por causa da confraternização dos brasileiros. Estava o pessoal todo - menos o Ram. Nada melhor do que um restaurante brasileiro quando se está no exterior. Por mais que a comida não seja a mesma, é sempre uma boa lembrança.
Já comi comida brasileira em Genebra - uma piada, afinal o restaurante tinha música salsa, e os garçons falavam espanhol-, em Milão, em San Francisco, e em Long Beach, onde comemos eu e meu primo numa churrascaria que servia uma excelente picanha australiana. Meu amigo Ram fica zombando de mim, dizendo que eu não devia me preocupar com restaurantes brasileiros enquanto estivesse viajando. Mas a ida ao restaurante brasileiro é uma espécie de busca de do Brasil perdido...não deixa de ter algo nostálgico, pois é um ato de rememoração.
Já comi comida brasileira em Genebra - uma piada, afinal o restaurante tinha música salsa, e os garçons falavam espanhol-, em Milão, em San Francisco, e em Long Beach, onde comemos eu e meu primo numa churrascaria que servia uma excelente picanha australiana. Meu amigo Ram fica zombando de mim, dizendo que eu não devia me preocupar com restaurantes brasileiros enquanto estivesse viajando. Mas a ida ao restaurante brasileiro é uma espécie de busca de do Brasil perdido...não deixa de ter algo nostálgico, pois é um ato de rememoração.
sexta-feira, dezembro 12, 2003
Enquanto isso, a política americana fede cada vez mais.
Saiu no NYT hoje: Halliburton Company "superfaturou" 61 milhões de dólares em serviços no Iraque. Detalhe: A Halliburton era comandada por Dick Cheney, o vice-presidente dos EUA. Eu não sei se "superfaturar" é a melhor tradução de "overcharge", pois o termo em português tem uma conotação muito mais negativa. "Overcharge" pode ser até resultado de algum engano. Por exemplo, você vai no restaurante e o garçom cobra dois pratos ao invés de um. Ele está cobrando a mais (overcharge). Fica meio difícil de acreditar que Halliburton tenha se enganado com uma margem de 61 milhões de dólares. Mas, segundo o NYT, algo já foi restituído ao Tesouro Americano. Não se sabe quanto.
Saiu no NYT hoje: Halliburton Company "superfaturou" 61 milhões de dólares em serviços no Iraque. Detalhe: A Halliburton era comandada por Dick Cheney, o vice-presidente dos EUA. Eu não sei se "superfaturar" é a melhor tradução de "overcharge", pois o termo em português tem uma conotação muito mais negativa. "Overcharge" pode ser até resultado de algum engano. Por exemplo, você vai no restaurante e o garçom cobra dois pratos ao invés de um. Ele está cobrando a mais (overcharge). Fica meio difícil de acreditar que Halliburton tenha se enganado com uma margem de 61 milhões de dólares. Mas, segundo o NYT, algo já foi restituído ao Tesouro Americano. Não se sabe quanto.
Está caricato o artigo de José Genoíno na Folha de S. Paulo, defendendo a expulsão dos radicais. Veja só que pérola: os radicais podem ter liberdade de opinião, ou seja, podem espinafrar o quanto quiserem o governo nas tribunas do Parlamento, mas na hora de votar, tem que votar de acordo com o o Partido (=governo). Essa foi uma das afirmações mais ridículas que já vi ultimamente. Quer dizer que os parlamentares só podem defender o ponto de vista "retoricamente". Mas Zé Genoíno sabe que palavras são apenas palavras no vento. O que importa é o voto. O que faz um parlamentar ser um parlamentar é a capacidade que ele tem de votar.
Segundo José Genoíno " num partido político deve haver a primazia do coletivo e das instâncias partidárias sobre a vontade dos indivíduos". No final, ele defende a reforma política proposta por Ronaldo Caiado (yes, Ronaldo Caiado), que defende voto em lista fechada nas eleições proporcionais. Tudo bem, concedamos a José Genoíno que o voto que o eleitor dá é para o partido e não para a pessoa, fica a pergunta: o eleitor que votou no PT em 2002, sabia das propostas do partido na Reforma da Previdência? Se o eleitor tem memória, ele se lembrará que o PT foi contra tudo isso que agora defende. Que gente como Paulo Paim tinha planos alternativos a esse tipo de reforma considerada até então "fiscalista". Hoje esse povo assume a mesma arrogância do governo FH, num messianismo do tipo: Estamos querendo salvar o Brasil. Se vc é contra o projeto, é contra o Brasil.
O PT mudou, e a mudança veio da cúpula. Não foi algo democrático. Não houve auto-critica. Mudaram de posição com a cara mais sonsa desse mundo. Esse é o problema. Heloísa Helena só está falando o que sempre falou.
* * * * * * *
Bernardo, meu amigo, diz que ninguém está mamando no governo do PT. Não quis dizer que essas pessoas tivessem má-fé e estivessem se utilizando do estado apenas para ter um emprego. Mas, mesmo que Tarso Genro seja um craque na articulação sociedade civil-estado, Olívio seja um expert em problemas urbanos, Bené seja o símbolo das minorias, o que estamos vendo é ineficiência, sobreposição de função, cabeça batendo em cabeça. Bons nomes não quer dizer nada. É como seleção de futebol. Pode estar cheio de craque, mas jogar mal. Portanto, a sensação com a qual ficamos é de que as nomeações foram mais feitas devido a uma acomodação para os "derrotados", do que pensando-se na eficiência da máquina petista.
Segundo José Genoíno " num partido político deve haver a primazia do coletivo e das instâncias partidárias sobre a vontade dos indivíduos". No final, ele defende a reforma política proposta por Ronaldo Caiado (yes, Ronaldo Caiado), que defende voto em lista fechada nas eleições proporcionais. Tudo bem, concedamos a José Genoíno que o voto que o eleitor dá é para o partido e não para a pessoa, fica a pergunta: o eleitor que votou no PT em 2002, sabia das propostas do partido na Reforma da Previdência? Se o eleitor tem memória, ele se lembrará que o PT foi contra tudo isso que agora defende. Que gente como Paulo Paim tinha planos alternativos a esse tipo de reforma considerada até então "fiscalista". Hoje esse povo assume a mesma arrogância do governo FH, num messianismo do tipo: Estamos querendo salvar o Brasil. Se vc é contra o projeto, é contra o Brasil.
O PT mudou, e a mudança veio da cúpula. Não foi algo democrático. Não houve auto-critica. Mudaram de posição com a cara mais sonsa desse mundo. Esse é o problema. Heloísa Helena só está falando o que sempre falou.
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Bernardo, meu amigo, diz que ninguém está mamando no governo do PT. Não quis dizer que essas pessoas tivessem má-fé e estivessem se utilizando do estado apenas para ter um emprego. Mas, mesmo que Tarso Genro seja um craque na articulação sociedade civil-estado, Olívio seja um expert em problemas urbanos, Bené seja o símbolo das minorias, o que estamos vendo é ineficiência, sobreposição de função, cabeça batendo em cabeça. Bons nomes não quer dizer nada. É como seleção de futebol. Pode estar cheio de craque, mas jogar mal. Portanto, a sensação com a qual ficamos é de que as nomeações foram mais feitas devido a uma acomodação para os "derrotados", do que pensando-se na eficiência da máquina petista.
O semestre acaba com uma pontinha de melancolia. Doente, exausto, sem energias para mais nada. A cidade está fria, o céu está nublado. Minha nostalgia tropical - que estava hibernada - acorda nesses invernos. Bem, mas poderia ser pior. Poderia estar morando em Nova Iorque, ou Boston, tendo que aguentar 7 meses de gelo e ausência de sol.
* * * * *
Alguns meus amigos me perguntam afinal o que eu faço aqui nos Estados Unidos, além do que ficar lendo "The Economist" na portaria da I-House. Quer dizer, além de ensinar português para os gringos, e pegar seminários de pós-graduação cheios de feministas. Afinal, qual é o assunto de minha dissertação de mestrado (que os americanos chamam de "tese" de mestrado).
Eu estou escrevendo sobre Gilberto Freyre. Até aí tudo bem. Todo mundo no Brasil escreve sobre Giba Freyre. Como estou numa pós-graduação de literatura, estou estudando o gênero literário preferido do sociólogo pernambucano: o ensaio. Gilberto já foi estudado por críticos literários, mas geralmente por causa da influência que ele exerceu no chamado "romance social" da década de 30, mais marcadamente em José Lins do Rêgo. Eu não estou estudando o Gilberto "ativista cultural" que incientivava escritores nordestinos a escreverem sobre a realidade da região. Estou tentando analisar o Gilberto Freyre que escreveu Casa-Grande & Senzala.
Parto da análise da recepção de CGS. Afinal esse livro, no decorrer das décadas do séc. XX, foi do céu para o inferno. Elogiada como porta de entrada para o conhecimento do Brasil, pela linguagem renovada, pelos assuntos que trazia à baila, pelo inversão que proporcionava no estudos sociais - desacreditando a ótica racial e construindo uma abordagem culturalista - CGS virou, juntamente com Os Sertões de Euclides da Cunha, o livro canônico para se entender o Brasil. Já na década de 60 e 70, CGS começa a ser duramente criticada, porque formulava uma ideologia da "democracia racial", pela imprecisão conceitual do autor que escrevia uma espécie de "impressionismo sociológico", longe, portanto, de atingir os altos níveis de exigência que a moderna sociologia havia estabelecido. CGS virou símbolo de reacionarismo, de conformismo social.
A pergunta é: como uma obra pode ter algo tão desabusado e subversivo, e ao mesmo tempo conformista e conservador? Como o julgamento de uma obra pode ter mudado tanto?
Aí eu saio da análise da recepção e tento encontrar no texto de Giba Freyre elementos que possibilitem essa disparidade de interpretações. Daí vem a chave hermenêutica do "ensaio", fundamental para o entendimento de sua obra. É nisso que vou trabalhar durante esse inverno. Enquanto meus amigos brasileiros vão se esbaldar em churrascos, praias e mulheres bonitas, eu ficarei em Berkeley, vistando Casa-Grande e Senzala todo dia...
* * * * *
Alguns meus amigos me perguntam afinal o que eu faço aqui nos Estados Unidos, além do que ficar lendo "The Economist" na portaria da I-House. Quer dizer, além de ensinar português para os gringos, e pegar seminários de pós-graduação cheios de feministas. Afinal, qual é o assunto de minha dissertação de mestrado (que os americanos chamam de "tese" de mestrado).
Eu estou escrevendo sobre Gilberto Freyre. Até aí tudo bem. Todo mundo no Brasil escreve sobre Giba Freyre. Como estou numa pós-graduação de literatura, estou estudando o gênero literário preferido do sociólogo pernambucano: o ensaio. Gilberto já foi estudado por críticos literários, mas geralmente por causa da influência que ele exerceu no chamado "romance social" da década de 30, mais marcadamente em José Lins do Rêgo. Eu não estou estudando o Gilberto "ativista cultural" que incientivava escritores nordestinos a escreverem sobre a realidade da região. Estou tentando analisar o Gilberto Freyre que escreveu Casa-Grande & Senzala.
Parto da análise da recepção de CGS. Afinal esse livro, no decorrer das décadas do séc. XX, foi do céu para o inferno. Elogiada como porta de entrada para o conhecimento do Brasil, pela linguagem renovada, pelos assuntos que trazia à baila, pelo inversão que proporcionava no estudos sociais - desacreditando a ótica racial e construindo uma abordagem culturalista - CGS virou, juntamente com Os Sertões de Euclides da Cunha, o livro canônico para se entender o Brasil. Já na década de 60 e 70, CGS começa a ser duramente criticada, porque formulava uma ideologia da "democracia racial", pela imprecisão conceitual do autor que escrevia uma espécie de "impressionismo sociológico", longe, portanto, de atingir os altos níveis de exigência que a moderna sociologia havia estabelecido. CGS virou símbolo de reacionarismo, de conformismo social.
A pergunta é: como uma obra pode ter algo tão desabusado e subversivo, e ao mesmo tempo conformista e conservador? Como o julgamento de uma obra pode ter mudado tanto?
Aí eu saio da análise da recepção e tento encontrar no texto de Giba Freyre elementos que possibilitem essa disparidade de interpretações. Daí vem a chave hermenêutica do "ensaio", fundamental para o entendimento de sua obra. É nisso que vou trabalhar durante esse inverno. Enquanto meus amigos brasileiros vão se esbaldar em churrascos, praias e mulheres bonitas, eu ficarei em Berkeley, vistando Casa-Grande e Senzala todo dia...
quarta-feira, dezembro 10, 2003
Finalmente escrevo. Escrevo doente, abatido. A semana foi louca. Muito trabalho. Poucas horas dormidas - e geralmente, mal dormidas. Macabéa quase que me matou com um gripe das brabas. Estou vivendo à base de Tylenol e vitamina C. Enquanto isso todo mundo arruma as malas para ir para o Brasil. Berkeley já está se movimentando para se esvaziar.
domingo, dezembro 07, 2003
O New York Times está em cima daquele caso do casal americano barbaramente assassinado, no Rio de Janeiro. Cada coisa esquisita e macábra acontecendo pelo mundo. E o caso de Celso Daniel?Aquilo dali tem coisa. Tanto tem que tem muita gente querendo enterrar de vez o prefeito, sem querer saber afinal o que aconteceu. O que aconteceu...
* * *
Fazendo uma pequena pausa no meu trabalho. Praticamente estou vivendo com Clarice Lispector. Acordei de lado de Macabéa, a personagem de A Hora da Estrela. Salvo engano, Walter Benjamin é que dizia que livros são como mulheres: levamo-los para cama. Meu deus, se alguma feminista de plantão estiver lendo isso, que me perdoe, mas não poderia deixar de fazer essa citação num dia em que amanheci cheio de livros ao meu lado. Macabéia, Clarice...todas dormiram comigo esta noite. E pelo jeito atravesserão o dia comigo. Elas são meio ganha-pão. Sinto-me um verdadeiro gigolô explorando-as para depois obter uma nota na universidade...academia, pra que te quero?
* * *
Fazendo uma pequena pausa no meu trabalho. Praticamente estou vivendo com Clarice Lispector. Acordei de lado de Macabéa, a personagem de A Hora da Estrela. Salvo engano, Walter Benjamin é que dizia que livros são como mulheres: levamo-los para cama. Meu deus, se alguma feminista de plantão estiver lendo isso, que me perdoe, mas não poderia deixar de fazer essa citação num dia em que amanheci cheio de livros ao meu lado. Macabéia, Clarice...todas dormiram comigo esta noite. E pelo jeito atravesserão o dia comigo. Elas são meio ganha-pão. Sinto-me um verdadeiro gigolô explorando-as para depois obter uma nota na universidade...academia, pra que te quero?
sábado, dezembro 06, 2003
Como eu nao sei inserir os comentários alheios no meu blogue, vou fazer um copy-paste de um e-mail de meu amigo Bernardo Jurema, petista de grande estirpe, que escreveu um pouco indignado acerca de minhas palavras em relação à expulsão de Heloisa Helena.
Trecho de Bernardo:
"pô césar... defender HH foi pau.... "Afinal, o compromisso de Heloísa
Helena é com sua bases, é com o povo que a elegeu. " Primeiro lugar: o
compromisso dela é com a sua própria categoria (servidores públicos)
que queriam a manutenção do status-quo.
Segundo lugar: Como senadora, representante legítima do povo das
Alagoas, seu compromisso não deveria ser com a sua "base"
ou "categoria". Não dá pra defender basismo nem corporativismo!
César, e você tá parecendo colunista da Folha de São Paulo!
"Lula chamou todos os derrotados na eleição de 2002 para mamar nas
tetas do governo." - primeiro, quase todos os chamados, mesmo
derrotados (o que não é demérito no jogo democrático, frise-se)
entendem da área. Olívio Dultra pra Cidades não poderia ser mais
adequado, ele que foi um dos prefeitos mais inovadores e ousados que
esse país já teve e entende como poucos os problemas das cidades
brasileiras. Humberto, sempre teve atuação legislativa destacada na
área de saúde. Tarso Genro, que com o PT de PoA desenvolveu a maneira
petista de governar cidades em parceria com a sociedade civil. Não
estão "mamando", césar... claro, que tem os ruins, as decepções
(Bené). Mas a própria Bené, por exemplo, desde 1989 era cotada para
ser ministra da área social.
"O governo está lotado e loteado." - concordo que esteja lotada, mas
acho superficial abordar dessa maneira. O sistema político brasileiro
torna forçoso esse tipo de coisa. Loteado... Ora, quando era PFL-PSDB-
PMDB et al. não era loteamento político, era indicação, ou seja lá o
que for. Agora é PT aí vira "aparelhamento do Estado". Francamente!
Cobra-se do PT uma coisa que é um problema estrutural! Lá na Fundaj
todos os macacos velhos ficavam indignados com as "indicações
políticas", como se não fossem eles mesmos isso, só que por outro
partido!
EEUU estão lhe deixando muito tucano, césar! cuidado! hahaha"
Eu vou responder a Jurema. Assim que tiver tempo.
Trecho de Bernardo:
"pô césar... defender HH foi pau.... "Afinal, o compromisso de Heloísa
Helena é com sua bases, é com o povo que a elegeu. " Primeiro lugar: o
compromisso dela é com a sua própria categoria (servidores públicos)
que queriam a manutenção do status-quo.
Segundo lugar: Como senadora, representante legítima do povo das
Alagoas, seu compromisso não deveria ser com a sua "base"
ou "categoria". Não dá pra defender basismo nem corporativismo!
César, e você tá parecendo colunista da Folha de São Paulo!
"Lula chamou todos os derrotados na eleição de 2002 para mamar nas
tetas do governo." - primeiro, quase todos os chamados, mesmo
derrotados (o que não é demérito no jogo democrático, frise-se)
entendem da área. Olívio Dultra pra Cidades não poderia ser mais
adequado, ele que foi um dos prefeitos mais inovadores e ousados que
esse país já teve e entende como poucos os problemas das cidades
brasileiras. Humberto, sempre teve atuação legislativa destacada na
área de saúde. Tarso Genro, que com o PT de PoA desenvolveu a maneira
petista de governar cidades em parceria com a sociedade civil. Não
estão "mamando", césar... claro, que tem os ruins, as decepções
(Bené). Mas a própria Bené, por exemplo, desde 1989 era cotada para
ser ministra da área social.
"O governo está lotado e loteado." - concordo que esteja lotada, mas
acho superficial abordar dessa maneira. O sistema político brasileiro
torna forçoso esse tipo de coisa. Loteado... Ora, quando era PFL-PSDB-
PMDB et al. não era loteamento político, era indicação, ou seja lá o
que for. Agora é PT aí vira "aparelhamento do Estado". Francamente!
Cobra-se do PT uma coisa que é um problema estrutural! Lá na Fundaj
todos os macacos velhos ficavam indignados com as "indicações
políticas", como se não fossem eles mesmos isso, só que por outro
partido!
EEUU estão lhe deixando muito tucano, césar! cuidado! hahaha"
Eu vou responder a Jurema. Assim que tiver tempo.
sexta-feira, dezembro 05, 2003
Beleza californiana - hoje está um dia agradabilíssimo. Está fazendo 14 o C. Enquanto isso em Nova Iorque, houve a primeira tempestade de neve do ano.
Para saber da temperatura em Berkeley, basta acessar essa página.
http://sv.berkeley.edu/view/index.html
Para saber da temperatura em Berkeley, basta acessar essa página.
http://sv.berkeley.edu/view/index.html
Hoje foi o último dia de aula. Dei graças a Deus por não precisar ensinar mais. Agora só trabalhos finais, ou como dizem os americanos, só papers. O trabalho vai só começar. Para uma disciplina estou escrevendo sobre Clarice Lispector. Mais especificamente o romance A hora da Estrela. Tento discutir os problemas que narrativa apresenta. A meu ver, o principal deles seria a dificuldade de narrar o outro.
No outro paper, vou escrever sobre a "Carta pras Icamiabas", décimo capítulo de Macunaíma. Falo sobre o a mímese incompleta de Macunaíma. Todos esses assuntos parecem bastante abstratos, à primeira vista. Mas depois, se tiver paciência, e sobretudo, se sobreviver a eles, tentarei escrever melhor sobre esses trabalhos.
No outro paper, vou escrever sobre a "Carta pras Icamiabas", décimo capítulo de Macunaíma. Falo sobre o a mímese incompleta de Macunaíma. Todos esses assuntos parecem bastante abstratos, à primeira vista. Mas depois, se tiver paciência, e sobretudo, se sobreviver a eles, tentarei escrever melhor sobre esses trabalhos.
quinta-feira, dezembro 04, 2003
Duas palavras sobre a expulsão de Heloísa Helena.
Há gente que acha essa expulsão da senadora alagoana como um exemplo de como as coisas num partido deveriam ser. Afinal, ela já sabia que no PT, uma vez que os companheiros "fecham" com uma questão, todo mundo tem que apoiar e defender. É por isso que o partido é forte.
No entanto, sob a fachada de modernidade política, esconde-se o autoritarismo do politburo petista. Se há algo que vai de encontro às raízes democráticas da esquerda é essa expulsão da Heloísa Helena. Afinal, o compromisso de Heloísa Helena é com sua bases, é com o povo que a elegeu. Gente que votou nela com determinadas expectativas e desejos. Pessoalmente discordo com os pontos de vista da senadora e dos setores de esquerda que a sustentam, mas os votos dessas pessoas na senadora devem ser respeitados. Pedir que a senadora mude de posição, por causa de uma decisão de cúpula do partido, não é razoável.
Afinal, triste é ver um senador como Paulo Paim que passou oito anos metendo o pau em Fernando Henrique e sua reforma da previdência, tendo que votar numa reforma com o mesmo teor. Sabe-se que ele discorda da proposta, mas votou a favor. E ainda dizem que as putas é que não têm dignidade...
* * *
A sensação que o governo do PT me passa é a seguinte: Lula chamou todos os derrotados na eleição de 2002 para mamar nas tetas do governo. O governo está lotado e loteado. Ministério das Pulgas, Ministério da Caça Submarina, tudo foi criado para acomodar postos. No ministério dos Esportes criaram até o "departamento de dominó", esse esporte fundamental das universidades brasileiras. E ao mesmo tempo, essa máquina toda está imobilizada por falta de dinheiro.
Do outro lado, parece que quem de fato manda no governo são dois ou três gatos pingados- a saber: Palocci, Dirceu e Lula. O politburo manda e o resto mama. Esse é o retrato do governo de Lula. Um barco cheio de gente, sem recursos, no qual só três pessoas podem dar as coordenadas.
Há gente que acha essa expulsão da senadora alagoana como um exemplo de como as coisas num partido deveriam ser. Afinal, ela já sabia que no PT, uma vez que os companheiros "fecham" com uma questão, todo mundo tem que apoiar e defender. É por isso que o partido é forte.
No entanto, sob a fachada de modernidade política, esconde-se o autoritarismo do politburo petista. Se há algo que vai de encontro às raízes democráticas da esquerda é essa expulsão da Heloísa Helena. Afinal, o compromisso de Heloísa Helena é com sua bases, é com o povo que a elegeu. Gente que votou nela com determinadas expectativas e desejos. Pessoalmente discordo com os pontos de vista da senadora e dos setores de esquerda que a sustentam, mas os votos dessas pessoas na senadora devem ser respeitados. Pedir que a senadora mude de posição, por causa de uma decisão de cúpula do partido, não é razoável.
Afinal, triste é ver um senador como Paulo Paim que passou oito anos metendo o pau em Fernando Henrique e sua reforma da previdência, tendo que votar numa reforma com o mesmo teor. Sabe-se que ele discorda da proposta, mas votou a favor. E ainda dizem que as putas é que não têm dignidade...
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A sensação que o governo do PT me passa é a seguinte: Lula chamou todos os derrotados na eleição de 2002 para mamar nas tetas do governo. O governo está lotado e loteado. Ministério das Pulgas, Ministério da Caça Submarina, tudo foi criado para acomodar postos. No ministério dos Esportes criaram até o "departamento de dominó", esse esporte fundamental das universidades brasileiras. E ao mesmo tempo, essa máquina toda está imobilizada por falta de dinheiro.
Do outro lado, parece que quem de fato manda no governo são dois ou três gatos pingados- a saber: Palocci, Dirceu e Lula. O politburo manda e o resto mama. Esse é o retrato do governo de Lula. Um barco cheio de gente, sem recursos, no qual só três pessoas podem dar as coordenadas.
quarta-feira, dezembro 03, 2003
Passou em Berkeley o documentário Ônibus 174 (Bus 174). Passou rápido, mas passou. Gostei do documentário. Apesar de perceber com clareza a visão do diretor do documentário (a barbárie daquele dia é responsabilidade da própria sociedade brasileira, que dá as costas para gente feito o Sandro), a maneira como foi produzido, dá ao expectador uma autonomia para tirar suas próprias conclusões.
Essa é uma das qualidades de qualquer obra de arte digna desse nome: a possibilidade de ir além das intenções de seu autor. Uma obra tem que tornar possível uma leitura a contrapelo. Obras não são objetivações de idéias de um autor. É.
Um documentário como Bowling for Columbine, do Michael Moore, que fez o maior sucesso aqui em Berkeley tem esse defeito. Não se trata de um documentário propriamento dito, onde o diretor pretende investigar alguma coisa. Trata-se de um "documentário de tese". Moore tem uma tese e pretende convencer-nos de seu ponto de vista. Ou seja, é mais uma peça retórica do que analítica e aí perde-se muito enquanto documentário.
Por exemplo, há uma cena em que ele vai a um banco, abre uma conta, e recebe uma arma no balcão do banco. Li uma reportagem do New Yorker em que eles mostram que aquela cena foi montada. O banco não entregava a arma no balcão, nem sequer entregava uma arma para qualquer pessoa que quisesse abrir uma conta. Mas Moore nos passou essa ilusão. E documentários não deveriam vender ilusões, por mais bem intencionadas sejam as teses que o documentário defende.
Essa é uma das qualidades de qualquer obra de arte digna desse nome: a possibilidade de ir além das intenções de seu autor. Uma obra tem que tornar possível uma leitura a contrapelo. Obras não são objetivações de idéias de um autor. É.
Um documentário como Bowling for Columbine, do Michael Moore, que fez o maior sucesso aqui em Berkeley tem esse defeito. Não se trata de um documentário propriamento dito, onde o diretor pretende investigar alguma coisa. Trata-se de um "documentário de tese". Moore tem uma tese e pretende convencer-nos de seu ponto de vista. Ou seja, é mais uma peça retórica do que analítica e aí perde-se muito enquanto documentário.
Por exemplo, há uma cena em que ele vai a um banco, abre uma conta, e recebe uma arma no balcão do banco. Li uma reportagem do New Yorker em que eles mostram que aquela cena foi montada. O banco não entregava a arma no balcão, nem sequer entregava uma arma para qualquer pessoa que quisesse abrir uma conta. Mas Moore nos passou essa ilusão. E documentários não deveriam vender ilusões, por mais bem intencionadas sejam as teses que o documentário defende.
ERRATA: Fiquei falando de Boris Fausto. Mas estava pensando em Ruy Fausto, filósofo marxista, professor Emérito da USP e da Sorbonne. Foi Ruy quem deu entrevista para Folha.
Boris Fausto é irmão e Rui e autor de uma excelente História do Brasil publicada pela Edusp.
Boris Fausto é irmão e Rui e autor de uma excelente História do Brasil publicada pela Edusp.
Blog enquanto forma
Blog – símbolo maior da era do narcisismo e da futilidade pós-moderna? Ou marco de uma época em que a comunicação ganha uma dinâmica outrora impensável, trazendo nessa mesma dinâmica um mundo de possibilidades interessantes? Nunca se sabe. Em outras palavras, o blog como qualquer meio de comunicação pode carregar diversos tipos de propostas e utilidades. Pode causar nas pessoas que o usam uma sensação de 15 segundos de fama, para falar com Andy Warhol, pois o centro das atenções daquele site é você, a pessoa que escreve. De fato o blogue (vamos aportuguesar o nome) é um prato cheio para os narcisistas de plantão, mas também é uma maneira de discutir idéias, de falar sobre o que estamos lendo, o que estamos assistindo, o que estamos pensando. Por essas e por outras, acredito que vida inteligente e blogue não são incompatíveis.
Blog – símbolo maior da era do narcisismo e da futilidade pós-moderna? Ou marco de uma época em que a comunicação ganha uma dinâmica outrora impensável, trazendo nessa mesma dinâmica um mundo de possibilidades interessantes? Nunca se sabe. Em outras palavras, o blog como qualquer meio de comunicação pode carregar diversos tipos de propostas e utilidades. Pode causar nas pessoas que o usam uma sensação de 15 segundos de fama, para falar com Andy Warhol, pois o centro das atenções daquele site é você, a pessoa que escreve. De fato o blogue (vamos aportuguesar o nome) é um prato cheio para os narcisistas de plantão, mas também é uma maneira de discutir idéias, de falar sobre o que estamos lendo, o que estamos assistindo, o que estamos pensando. Por essas e por outras, acredito que vida inteligente e blogue não são incompatíveis.
Na última semana assisti a três filmes aqui em Berkeley.
Sylvia. – Filme sobre a vida de Sylvia Plath. É sempre temarário quando Hollywood resolve filmar vida de poetas. A atriz que representa Sylvia é Gwyneth Paltrow, que é muito insossa. Não chove nem molha, como diz o povo no Recife. Não gostei do roteiro. Relacionamentos como o de Ted Hugues e Sylvia deveriam ganhar do diretor um tratamento mais nuançado. No final, o filme dá a impressão de que Sylvia se tornou uma grande poeta por causa das dores de cotovelo que a separação com Ted lhe trouxe.
Shattered Glass – Ótimo filme. Deveria ser assistido por todos jornalistas. Trata-se da trajetória de Stephen Glass, um jovem prodígio que fez carreira meteórica e aos 25 anos de idade já era editor-assistente da New Republic, famosa e prestigiada revista política dos EUA (conhecida por ser a revista de bordo do Air Force One...). Pois bem, esse Glass começa a inventar notícias. Há matérias dele em que nenhuma fonte, nenhuma pessoa citada é real. Isso aconteceu em 1998. O filme vale a pena ser assistido.
Human Stain – Um dos piores filmes de todos os tempos. Estrelado por Anthony Hopkins e Nicole Kidman. O filme é tão ruim e inverossímil que fica difícil fazer qualquer comentário. O filme é uma mistura de lugares-comuns com grotescas inverossimilhanças
Sylvia. – Filme sobre a vida de Sylvia Plath. É sempre temarário quando Hollywood resolve filmar vida de poetas. A atriz que representa Sylvia é Gwyneth Paltrow, que é muito insossa. Não chove nem molha, como diz o povo no Recife. Não gostei do roteiro. Relacionamentos como o de Ted Hugues e Sylvia deveriam ganhar do diretor um tratamento mais nuançado. No final, o filme dá a impressão de que Sylvia se tornou uma grande poeta por causa das dores de cotovelo que a separação com Ted lhe trouxe.
Shattered Glass – Ótimo filme. Deveria ser assistido por todos jornalistas. Trata-se da trajetória de Stephen Glass, um jovem prodígio que fez carreira meteórica e aos 25 anos de idade já era editor-assistente da New Republic, famosa e prestigiada revista política dos EUA (conhecida por ser a revista de bordo do Air Force One...). Pois bem, esse Glass começa a inventar notícias. Há matérias dele em que nenhuma fonte, nenhuma pessoa citada é real. Isso aconteceu em 1998. O filme vale a pena ser assistido.
Human Stain – Um dos piores filmes de todos os tempos. Estrelado por Anthony Hopkins e Nicole Kidman. O filme é tão ruim e inverossímil que fica difícil fazer qualquer comentário. O filme é uma mistura de lugares-comuns com grotescas inverossimilhanças
Don Quixote
Don Quixote
Don Quixote é um personagem inspirador. Por isso que coloquei no nome de meu blogue. Todo idealista, toda pessoa que especula mudanças e guinadas na sua vida, tem algo de quixotesco. O mais interessante no quixotesco é que ele está longe das virtudes heróicas dos heróis gregos, por exemplo. Há algo de nobre e ao mesmo tempo tolo em Dom Quixote. Ele é um personagem muito parecido conosco, pois chora ao mesmo tempo que sonha. Ele voa com seu pensamento, por mais ridículo que isso venha a ser.
Sem falar da influência marcante que ele causou na literatura mundial. Além de ser o primeiro romance, no sentido moderno do termo, Dom Quixote virou um paradigma literário, uma maneira de compor personagens. Afinal, Emma Bovary de Flaubert tem algo de quixotesco. O príncipe Prince Leo Nikolayevich Myshkin (O Idiota de Dostoievsky) é quixotesco até o último fio de cabelo. No Brasil, Quincas Borba poderia ser também arrolado dentro da tradição de personagens cerventinos. E claro, Policarpo Quaresma. Essas personagens são criadas para discrepar com os seus mundos. São exemplos de inadequação do sujeito em relação ao seu meio social. São figuras problemáticas, sonhadoras. Colocam questões onde não deveriam haver dúvidas.
Isso é ser quixotesco.
Don Quixote
Don Quixote é um personagem inspirador. Por isso que coloquei no nome de meu blogue. Todo idealista, toda pessoa que especula mudanças e guinadas na sua vida, tem algo de quixotesco. O mais interessante no quixotesco é que ele está longe das virtudes heróicas dos heróis gregos, por exemplo. Há algo de nobre e ao mesmo tempo tolo em Dom Quixote. Ele é um personagem muito parecido conosco, pois chora ao mesmo tempo que sonha. Ele voa com seu pensamento, por mais ridículo que isso venha a ser.
Sem falar da influência marcante que ele causou na literatura mundial. Além de ser o primeiro romance, no sentido moderno do termo, Dom Quixote virou um paradigma literário, uma maneira de compor personagens. Afinal, Emma Bovary de Flaubert tem algo de quixotesco. O príncipe Prince Leo Nikolayevich Myshkin (O Idiota de Dostoievsky) é quixotesco até o último fio de cabelo. No Brasil, Quincas Borba poderia ser também arrolado dentro da tradição de personagens cerventinos. E claro, Policarpo Quaresma. Essas personagens são criadas para discrepar com os seus mundos. São exemplos de inadequação do sujeito em relação ao seu meio social. São figuras problemáticas, sonhadoras. Colocam questões onde não deveriam haver dúvidas.
Isso é ser quixotesco.
A entrevista de Boris Fausto sobre o governo Lula na Folha de S. Paulo de domingo está muito boa. Ele consegue extrapolar o debate do maniqueísmo habitual. Mostrou que há espaço para uma voz que não fique nem entre apocaplíticos (Lula traiu a esquerda, não é mais revolucionário), nem entre os integrados (os adeptos do palocismo, que é uma espécie de malanismo requentado...que falam que Lula está fazendo o que pode, etc.) A crítica que Boris Fausto faz ao apoio do governo ao regime de Fidel Castro é veemente e anima os espíritos esquerdistas não-dogmáticos.